São Paulo, terça-feira, 24 de maio de 1994
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Joel Bats acha Brasil favorito na Copa

ANDRÉ LAHOZ
DE PARIS

México, 1986. Em campo, jogando pelas quartas-de-final da Copa do Mundo, Brasil e França. Após passe de Zico, Branco sofre pênalti, ao fim do segundo tempo. Zico tem a chance de desempatar.
O brasileiro caminha lentamente em direção à bola, como havia feito tantas vezes em sua carreira. Mas ao contrário do que geralmente ocorria, não marcou o gol.
Para impedi-lo, havia Joel Bats. Após o tempo regulamentar, há prorrogação e pênaltis. O Brasil seria eliminado da Copa, adiando mais uma vez o sonho do tetra.
Bats trabalha hoje como preparador de goleiros no Paris-Saint Germain (PSG), onde jogam Raí, Ricardo Gomes e Valdo.
Em entrevista exclusiva à Folha, relembra esse jogo, fala da Copa dos EUA, do favoritismo do Brasil e de seus amigos brasileiros.

Folha - Quais são as suas recordações do jogo com o Brasil?
Joel Bats - Esse jogo ainda é uma lembrança muito grande, talvez a maior de minha carreira.
Todo o estádio estava de amarelo pelo Brasil. Tudo estava ideal para que os times fizessem algo de realmente grande no campo. E então as duas equipes vieram e fizeram algo de muito especial.
Esse jogo é muito lembrado até hoje na França, é uma espécie de referência para o futebol francês.
Folha - E sobre o pênalti?
Bats - É impossível saber onde o jogador vai chutar, mas eu havia visto Zico bater um pênalti uma semana antes, contra a Polônia. Ele partiu lentamente em direção à bola, fez um jogo de corpo para um lado e bateu do outro.
Naquele dia, ele foi da mesma maneira em direção à bola. Eu pensei: "se puder retardar ao máximo qualquer movimento e só me mexer quando ele não puder mais trocar de lado, então talvez eu pegue". E foi o que fiz. Esperei e, no último momento, saí.
Folha - O que você sentiu?
Bats - Valdo me disse que os brasileiros ficaram muito tristes com a derrota. Se eu soubesse que nós acabaríamos eliminados pela Alemanha, não teria defendido.
Folha - O que ocorreu com a França após 86?
Bats - Foi o último ano de uma geração muito boa. Essa geração já jogava junto desde 82. Fomos campeões europeus em 84. E tivemos a sorte de contar com um gênio como Platini.
Folha - Quem são os favoritos para a Copa, na sua opinião?
Bats - O Brasil é o grande favorito. Ele está acima de todos os demais. Os outros vêm depois.
A Argentina hoje está jogando mal, mas é sempre assim: nunca são favoritos e sempre se dão bem.
A Colômbia também tem grandes chances. Tem muito potencial e pode surpreender. De um modo geral, acredito mais nos times da América do Sul do que nos europeus. Talvez a Itália se dê bem.
Folha - Conhece os goleiros brasileiros?
Bats - Sim. O Brasil tinha no goleiro o seu ponto fraco há alguns anos. Hoje é diferente. Gosto de Taffarel e de Zetti. Taffarel tem um estilo mais europeu, mas não tenho preferência entre os dois.
Folha - O que poderia dizer sobre os três brasileiros do PSG?
Bats - Os três são muito legais. Ricardo está sempre está presente, alguém que podemos contar 200%.
O mesmo vale para Valdo. Aqui na França, ninguém entende porque ele não foi chamado por Parreira. É um grande jogador, que sabe exatamente a hora de parar a bola ou de acelerar o jogo. Ele é muito útil à equipe.
Raí não rendeu tudo o que podia aqui. Ele teve dificuldades em sua adaptação, embora tenha melhorado no final do campeonato.

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