São Paulo, terça-feira, 24 de maio de 1994 |
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Sintonia fina Até há poucas semanas, a hipótese de uma explosão de consumo como a verificada no Cruzado dominava o debate sobre os rumos do Plano Real. Mas o ministro Ricupero parece tê-la descartado, passando a atentar mais para os riscos de desabastecimento de alimentos. De fato, não se espera com o real uma brusca distribuição de renda. E um aumento moderado do consumo poderá ser absorvido pela indústria. Ao contrário do Cruzado, quando a indústria já operava próxima à plena capacidade, hoje há como produzir mais sem esbarrar de imediato no limite produtivo. Ainda assim, dois riscos são objetivos e inevitáveis. Primeiro, como o próprio ministro já reconheceu, pode ocorrer "ilusão monetária". Ou seja, caindo a inflação e, por consequência os ganhos nominais, os poupadores podem crer que cai também seu ganho real. O risco é seguir-se uma corrida pela compra de ativos (bens duráveis, imóveis, etc.), comprometendo o ajuste. Outro risco afeta o setor de alimentos. Apesar da boa safra em 1994, há dificuldades. A começar pelo fato de que a partir de julho terá início justamente a entressafra. Condições hoje bastante favoráveis o serão em menor grau imediatamente depois de lançado o real. Além disso, os preços de alguns alimentos e certos produtos agrícolas, no atacado e no varejo, voltam a pressionar. Pesquisa Datafolha junto a supermercados, na semana passada, mostra um repique inflacionário depois de 25 semanas de calmaria. Alguns grãos sobem com muito mais vigor (o arroz, por exemplo, subiu 12% na semana). Têm sido frequentes os prognósticos otimistas quanto ao futuro do Plano Real. Ainda assim, entre as condições favoráveis e os resultados esperados colocam-se desafios que exigirão enorme sensibilidade no dia a dia. Será o primado da chamada "sintonia fina", uma sucessão de árduas batalhas cotidianas antes que se possa declarar vencida a guerra contra a inflação. Texto Anterior: Quércia Próximo Texto: Morte sobre rodas Índice |
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