São Paulo, terça-feira, 24 de maio de 1994
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Morte sobre rodas

"A morte é, de certa forma, uma impossibilidade que, de repente, se torna realidade".
Goethe

A frase do grande poeta alemão reflete com admirável precisão a maneira como muitos encaram a morte. E não resta dúvida de que essa visão é especialmente comum entre os jovens, cuja inexperiência aliada a um arrebatamento natural como que lhes confere um sentimento de onipotência, de imortalidade. E esse sentimento, por ser extremamente enganoso, tem muitas vezes consequências terríveis.
As mais notáveis e perversas se fazem ver no alto índice de envolvimento de jovens em acidentes de trânsito no mundo inteiro. Desastres no tráfego já são a principal causa de morte nessa faixa etária, fazendo mais vítimas do que a Aids ou outras doenças incuráveis.
Não foi por outra razão que o tema juventude no trânsito revelou-se uma das maiores preocupações do 13º congresso mundial da AIAMT (Associação Internacional de Acidente e Medicina do Tráfego), realizado na semana passada em São Paulo. Mas se os países desenvolvidos têm razões para comemorar alguns resultados no combate à inconsequência motorizada, o Brasil guarda o triste título de campeão mundial de acidentes. A culpa, é óbvio, não recai unicamente sobre os jovens, embora, na cidade de São Paulo, eles estejam envolvidos 23% dos desastres com morte.
É verdade que tramita no Senado um novo projeto do Código Nacional de Trânsito que pune com mais rigor os motoristas irresponsáveis. Entretanto, é sempre bom lembrar que leis de trânsito já existem no país e não são respeitadas. Endurecê-las é sem dúvida uma medida correta, porém insuficiente. O que garante o cumprimento de uma norma não é apenas a dureza da pena contra quem a desrespeite, mas também –e principalmente– a certeza da aplicação da sanção. No Brasil, um chiste.
De resto, o importante é que cada um dos motoristas e pedestres brasileiros, jovens ou idosos, tome consciência de que todo saber (no caso, a tecnologia, que permite ao homem a andar em velocidades para as quais seus frágeis órgãos não foram projetados) implica responsabilidade. Muita responsabilidade.

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