São Paulo, quarta-feira, 25 de maio de 1994
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Van Cliburn volta em excursão após 16 anos

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

Um dos maiores ídolos da história recente da música erudita, o pianista norte-americano Van Cliburn, vai fazer a partir de julho sua primeira excursão pelo país em 16 anos.
A notícia, publicada em anúncios de página inteira nos jornais das dez cidades por enquanto incluídas no roteiro, provocou corrida aos pontos de venda comparável à do anúncio do novo show dos Rolling Stones.
Van Cliburn parou de tocar em público em 1.978, aos 44 anos. Foi para casa em Fort Worth, Texas, Sudoeste dos EUA.
Passou a dedicar quase todo o seu tempo à competição internacional para jovens pianistas que tem seu nome.
Dias contados
Seu afastamento das apresentações ao vivo não foi, como no caso de seu colega canadense Glenn Gould, uma decisão elaborada.
Ele diz que resolveu dar um tempo devido ao cansaço mas se sentiu "tão feliz com a vida" durante a interrupção que ela foi se prolongando quase sem que ele sentisse.
Cliburn afirma que até discorda da teoria de Gould, segundo a qual a música erudita ao vivo estava com os dias contados (ela acabaria junto com o século 20, acreditava Gould).
"Eu sempre disse a Glenn que a excitação pela música ao vivo jamais terminaria. Nunca haverá um substituto para isso".
Guerra Fria
Em 1958, seis meses depois de a então União Soviética ter colocado em órbita o primeiro satélite artificial da Terra, Van Cliburn, aos 23 anos, venceu em Moscou o concurso internacional Tchaikovsky para jovens pianistas.
Em dezembro 1987, ele fez rápida reaparição pública durante o início do fim da Guerra Fria: tocou na Casa Branca para os então presidentes Mikhail Gorbachev e Ronald Reagan.
Depois. Van Cliburn se apresentou em Moscou e na ex-Leningrado, atual São Petersburgo.
Turnê
Agora, no seu retorno definitivo aos palcos, com 59 anos, a relação com a Rússia continua dando frutos: Cliburn vai ser acompanhado pela Orquestra Filarmônica de Moscou.
O espetáculo estréia em 9 de julho em San Diego, na Califórnia. Depois, segue para Los Angeles, Dallas, Denver, Saratoga Springs, Boston, Nova York, Detroit, Atlanta e Washington. Outras cidades ainda podem entrar no roteiro.
Ele também volta a aparecer nas lojas de disco. Suas gravações dos anos 60 estão sendo recompostas no sistema digital e lançadas em compact-disc.
O primeiro tem o "Concerto para Piano nº 2", de Rachmaninoff, e o "Concerto para Piano nº 5", de Beethoven, com a participação da Orquestra Sinfônica de Chicago.
Cliburn diz que a volta depois do "intervalo" de 16 anos é absolutamente normal.
"Nada mudou. Isso é o que faz a beleza da música erudita. Você não precisa ficar se reinventando. O que era bom ontem continua bom hoje e ainda vai ser bom amanhã. Nada sai de moda".

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