São Paulo, quarta-feira, 25 de maio de 1994 |
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Baba, uma ova, companheiro
CLÓVIS ROSSI SÃO PAULO – O candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, deve ter sido atacado de apoteose mental para declarar, como o fez na semana passada, que governar o Brasil vai ser "uma baba".Só um momento de delírio incontrolável pode explicar uma frase tão absurdamente fora da realidade. Governar o Brasil, em qualquer circunstância, é uma tarefa ciclópica. Governar o Brasil, na sequência de mais de uma década de crise, nem se fala. E governar o Brasil, sendo Lula o presidente, mais difícil ainda, porque o capital vai receber a sua eleição no mínimo com a maior desconfiança. Como não consta que Lula pretenda, se eleito, confiscar todo o capital, a tarefa de governar um país com a má vontade de quem tem dinheiro não é o que qualquer cidadão de posse de seu pleno juízo chamaria de "baba". Lula está sendo até incoerente. Só seria "baba" governar um país, qualquer país, se os sucessivos governos anteriores tivessem feito um trabalho excepcionalmente bom. Se o PT sempre foi de oposição a todos os governos desde que o partido foi criado, não pode imaginar que vai encontrar uma "baba" pela frente. Pode ter sido apenas um escorregão verbal, dos muitos que os políticos cometem, ainda mais quando são persistentemente assediados por câmeras e microfones. Obrigados a falar muitas vezes ao longo do dia, até dá para entender que digam uma ou outra bobagem. Mas o risco é o de que o escorregão seja produto de algo mais profundo. De uma verdadeira convicção de que será fácil governar o país só pelo fato de Lula ser o presidente. É comum esse tipo de equívoco. Todo sujeito que se elege presidente (ou se considera em condições de eleger-se) sempre acha que não vai fracassar onde seus antecessores fracassaram. Agrava essa inclinação natural a achar-se melhor do que os outros o cerco dos áulicos, que, com uma ou outra exceção, sempre ficam elogiando as qualidades do candidato, até as que ele não tem. Daí até achar que tudo será fácil quando se tiver o poder nas mãos é apenas um pequeno passo. Se Lula já tiver dado esse passo, está é babando na gravata. Texto Anterior: Desperdício Próximo Texto: Romário, soberbo Índice |
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