São Paulo, quinta-feira, 26 de maio de 1994 |
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Digable Planets traz novo disco ao Brasil
CARLOS CALADO
Graças a seu álbum de estréia, "Reachin' (A New Refutation of Time and Space)" (Warner), no ano passado o Digable Planets ocupou lugares de destaque nos "hit parades" e em capas de influentes revistas. Além de fazer shows com músicos de verdade (em vez dos tradicionais "playbacks" e "samplers"), o Digable tem uma curiosidade especial para os brasileiros. Embora tenha nascido em Washington, a vocalista Ladybug (joaninha; Mary Ann Vieira, 20, na vida real) é filha de um gaúcho e uma carioca, que emigraram para os EUA no início dos anos 70. Em entrevista à Folha, por telefone de Nova York, o líder Butterfly (borboleta; Ishmael Butler, seu nome verdadeiro), 24, falou sobre o novo disco do grupo e analisou as relações entre o hip-hop e o jazz. Folha - O Digable Planets já gravou um novo álbum? Butterfly - Sim, ele está pronto e o lançamento mundial será em setembro. Vai se chamar "Strange Fruit". Folha - Alguma relação com a dramática canção de Billie Holiday, cuja letra trazia a imagem de um homem negro enforcado em uma árvore? Butterfly - Sim. A canção de Billie falava da situação que os negros enfrentavam nos EUA daquela época, incluindo os linchamentos. Nosso próximo disco será bastante político. Vai tratar de questões raciais e coisas assim. Folha - Vocês samplearam alguma gravação de Billie? Butterfly - Não. Folha - Como você compara esse disco e o anterior? Butterfly - Musicalmente e poeticamente, o novo é mais avançado. O estilo é o mesmo, mas a música e as mensagens são mais maduras, foram mais adiante. Folha - Você acredita que a música possa ajudar a melhorar a vida das pessoas? Butterfly - Não, realmente não. Acho que a música pode refletir a vida, como as coisas estão acontecendo. Mas você não consegue mudar as coisas a partir dos efeitos. Você tem que mudar a partir do núcleo, do centro. Na verdade, há várias forças que se opõem ao "establishment" nos EUA, mas as mudanças são muito difíceis por aqui. Folha - Como você se envolveu com o jazz? Butterfly - Meus pais, assim como os pais de Doodlebug, cresceram na Filadélfia, em uma comunidade muito ligada ao jazz. Também crescemos ouvindo jazz. Folha - Quais são seus jazzistas favoritos? Butterfly - Gosto de trompetistas, como Lee Morgan, Clifford Brown e Thad Jones. Ou baixistas, como Charles Mingus. Folha - Quincy Jones já disse que o jazz e o rap têm as mesmas raízes. Concorda com ele? Butterfly - Sim, concordo. Acho que essas raízes estão fincadas na comunidade negra norte-americana. São as mesmas. Folha - Além dessas raízes, eles têm mais algo em comum? Butterfly - Cada um desses gêneros tem sua linguagem, mas há várias similaridades entre elas. Cada um tem seus códigos e formas de dança, mas o modo como eles se formaram é o mesmo. Folha - Quem ganhou mais com essa fusão? O rap se tornando mais musical ou o jazz ampliando seu público? Butterfly - Acho que foi uma troca, com 50% para cada um. Cada um tirou sua vantagem. Folha - Você aceita os rótulos hip-bop ou jazz-rap aplicados à música do Digable Planets? Buttlerfly - Não gosto. Os rótulos limitam você a fazer certas coisas. Nós fazemos hip-hop, com influências de várias áreas. Folha - Guru e US3 devem se apresentar junto com vocês no Brasil. Que tal a música deles? Butterfly - Guru é muito bom. Antes que eu começasse a levar o rap a sério, ele já fazia grandes coisas. Para mim, é o melhor. Já os rappers do US3 são legais, mas eu não gosto da atitude da banda. Não acho que eles estejam fazendo algo novo. Folha - Ladybug costuma tocar ou cantar música brasileira para você e Doodlebug? Butterfly - Todo o tempo. Sempre que ela vai à casa dos pais, volta com discos novos de música brasileira. Gosto muito da voz João Gilberto. Há muitos outros, mas não guardo os nomes. Texto Anterior: A persistência leva ao triunfo Próximo Texto: `Bluesmen' defendem a evolução do estilo Índice |
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