São Paulo, quinta-feira, 26 de maio de 1994
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Estética publicitária prejudica ritmo e suspense de "Kalifornia"

JOSÉ GERALDO COUTO
DA REPORTAGEM LOCAL

"Kalifornia", em seus melhores momentos, é um envolvente filme de ação.
Sua situação básica é promissora: dois casais social e culturalmente opostos –um de intelectuais de classe média, outro de marginais sem eira nem beira– atravessam a América no mesmo carro. O que quase põe tudo a perder é a pretensão "artística" e modernosa embutida no projeto.
Essa pretensão é responsável, em primeiro lugar, pelo contorcionismo do roteiro, que para colocar os dois casais juntos inventa uma história totalmente implausível.
O escritor Brian Kessler (David Duchovny) e sua mulher, a fotógrafa Carrie (Michelle Forbes), resolvem fazer uma longa viagem visitando os locais de assassinatos famosos, para fazer um livro sobre o assunto. Só que, absurdamente (porque vivem no luxo), precisam de duas pessoas para dividir as despesas da viagem.
O ex-presidiário Early Grayce (Brad Pitt, de "Thelma e Louise") e sua namorada, a cabeça-de-vento Adele (Juliette Lewis, de "Cabo do Medo" e "Maridos e Esposas"), apresentam-se para a vaga. Começa então a travessia.
Os bons momentos de suspense (os assassinatos que Early comete às costas do casal bonzinho) e o interesse dramático (a descoberta do prazer perverso da violência por Brian, o misto de atração e repulsa que Carrie sente por Early) são prejudicados pela estética de comercial de sutiã que domina o filme.
Contraluz, filtros azulados, abuso de fumaças e névoas, enquadramentos esdrúxulos sem nenhuma função narrativa, fetichização de objetos e peças de roupa –eis os ingredientes dessa receita requentada de estética "cult".
Se fizer vistas grossas a essa cretinice fundamental, o espectador se diverte por um par de horas.

Vídeo: Kalifornia
Produção: EUA, 1993, 118 min.
Direção: Dominic Sena
Elenco: Brad Pitt, Juliette Lewis, David Duchovny, Michelle Forbes
Lançamento: Europa Home Video (tel. 011/579-6522)

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