São Paulo, quinta-feira, 26 de maio de 1994
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Humor de "College" supera defeitos da cópia

INÁCIO ARAUJO
DA REDAÇÃO

Buster Keaton faz a média de uma gag por minuto em seus "Amores de um Colegial". Nada mal. Ainda mais quando se considera que seu humor tinha uma natureza quase oposta à de Chaplin, por exemplo.
Em Chaplin, o humor depende dele, de sua figura, de seus gestos. O personagem de Keaton, ao contrário, se dispõe no espaço, na relação que se tece entre as coisas e pessoas em cena e, mesmo, entre estas e a câmera.
"Amores" desenvolve de maneira formidável uma tendência do comediante (1895-1966): a do obstinado em luta contra as circunstâncias.
No caso, ele é Ronald, aluno brilhante que, no dia da formatura no colégio, faz um solene discurso contra os esportes. Todos os colegas saem no meio, inclusive sua amada, Mary (Ann Cornwall).
Ronald entra em uma universidade picareta especialmente para estar próximo de Mary. E prepara-se, daí por diante, para se tornar um esportista.
Inútil dizer que suas tentativas no ramo são patéticas. Para completar, Mary é cortejada pelo musculoso Jeff, um esportista nato.
Mas Buster/Ronald não é de entregar os pontos fácil, e aí está a graça da coisa. Ou antes, aí estará o ponto alto do filme: quando, para salvar sua amada, ele se torna, de fato, um esportista.
O filme dirigido por James W. Horne é um bom exemplo das virtudes do humor de Buster Keaton, que divide com Chaplin a condição de maior cômico do cinema mudo.
Problemas que não podem ser esquecidos, embora se possa passar por eles, em nome do filme: 1) a tradução das legendas às vezes não chega sequer a fazer sentido; 2) a qualidade da copiagem é triste, bem pior que a média das fitas brasileiras, que já é um horror.

Filme: Amores de um Colegial (College)
Produção: EUA, 1927.
Direção: James W. Horne
Elenco: Buster Keaton, Ann Cornwall, Florence Turner
Distribuição: International Classics (tel. 011/285-5599)

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