São Paulo, quinta-feira, 26 de maio de 1994
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Homens de saia põem Pepsi no uísque

DAVID DREW ZINGG

Em São PauloJackie se foi, deixando sua imagem congelada no tempo. Como fotógrafo, eu dei minha minúscula contribuição para ajudar a construir a imagem da única princesa da Gringolândia. Quando Jack Kennedy foi morto, Jackie entrou em retiro. As imagens que sempre vêm à mente são as de uma jovem deusa envolta em mistério.
Jackie havia sido fotógrafa de um jornal de Washington –foi onde conheceu seu futuro marido–, de modo que ela sabia algumas coisas sobre como se cria ícones. Mas foi sua criação aristocrática que a treinou para o poder e a glória.
Ela quase nunca aparecia mal em fotos. Não se pode dizer isso sobre muitas mulheres.
Tio Dave nunca dançou com ela, mas foi a muitos bailes chiques em Nova York, onde ela foi eleita a "Debutante de 1947". A futura sra. Zingg estudou com ela na Vassar College. Ela sempre teve aquela maneira discreta de falar. Ela ceceava um pouquinho, fato que acrescia seu charme. Jackie sempre guardava para si um pouco de seu ser íntimo.
Por mais que tentasse proteger-se e proteger seus filhos dos fotógrafos e repórteres, ela sempre tinha um pouco de simpatia por eles também.
Quando tio Dave era muito mais jovem e bonitinho do que é hoje ele foi chamado por uma revista, a "Gentleman's Quarterly", para fotografar o presidente Kennedy, que sabia ser elegante no vestir. Naquela época, eu tinha livre acesso à Casa Branca.
Fiz um acordo secreto com o secretário de imprensa de Kennedy, Pierre Salinger, para ser autorizado a fotografar uma reunião do presidente com o embaixador da Libéria, em uma sala de estar reservada no primeiro andar. Fiz uma foto elegante do elegante presidente e a foto tornou-se capa da elegante revista de moda.
Kennedy (com quem eu costumava velejar antes de ele tornar-se mr. President) ficou furioso quando viu um exemplar do que ele chamava de "aquela revista para alfaiates". Ele chamou Salinger e Zingg ao Salão Oval e passou a nos fustigar verbalmente em robusta linguagem de marinheiro.
Jackie passou por ali e acalmou a situação: "Não fique chateado, Jack", disse ela, "os rapazes só estavam cumprindo seu dever".
A Casa Branca de Kennedy foi a última presidência que pôde manter um relacionamento quase fraternal com a imprensa. O presidente e sua primeira-dama ainda não eram alvo de exame pessoal por parte dos repórteres. Os Kennedys foram a última quase-realeza eleita e respeitada dos Estados Unidos.
O mundo da política mudou tremendamente desde que Jackie foi a primeira-dama. Ela insistiu no direito de privacidade para ela e seus filhos. Hoje, a zona de privacidade que concedemos aos políticos tornou-se um pouquinho maior do que uma cabine telefônica. Jackie teria ficado horrorizada com os fuxicos da mídia intrometida e os políticos mentirosos que eles provocaram.
Jackie viveu provações demais para uma pessoa. Ela conheceu a diversão e a profunda tragédia. Ela praticou esqui aquático com John Glenn e enterrou John Kennedy. Ela foi elegante mesmo quando em profundo luto.
Scotch com quê?
O mundo tal como nós o conhecemos (eu, de minha parte, estou com 70 anos, quase 16) está chegando a um fim de arrepiar. Como você talvez saiba, Joãozinho, ou talvez não saiba, este ano o pessoal maravilhoso que nos trouxe o scotch uísque está comemorando o 500º aniversário do gargarejo predileto do tio Dave.
Uma notícia realmente terrível nos chega dos "highlands" escoceses. Uma das mais antigas, mais orgulhosas e maiores indústrias produtoras de scotch está transigindo um pouco. Depois de passar séculos sozinho num copo –talvez com um pouco de gelo, ou no máximo com um pouquinho de água–, o futuro do scotch uísque está assumindo uma coloração caramelada.
Hoje em dia aqueles caras que andam por aí vestindo saias de mulher estão falando sobre –horror dos horrores!– a nova geração que prefere seu uísque com... Pepsi-Cola.
O problema é que as vendas de scotch caíram e continuam caindo. O mercado jovem vem curtindo seus prazeres sob formas mais novas. Competindo com o scotch tradicional, temos coisas esdrúxulas como Jello Pops temperadas com vodca e produtos químicos proibidos. Os homens de saia escocesa que fabricam scotch estão na pior. Assim, a indústria está encorajando o consumo de scotch misturado com substâncias heréticas como Pepsi, Coca-Cola e até mesmo... 7-Up.
Isto não é novidade. Sabe-se que a rainha Vitória, por exemplo, tomava seu chá das cinco temperado com scotch. Mesmo no Oeste da Escócia as pessoas costumam há muito tempo misturar seu scotch com limonada gasosa.
Muitos anos atrás, na década de 50, tio Dave recorda uma ocasião em que lhe ofereceram um scotch com Coca no chique reduto carioca Sacha's.
Mais uma vez o Brasil inovava, adiantando-se às tendências futuras.
Bolo de chocolate
A grande dúvida sempre foi: Será que as Mulheres Realmente Gostam Daquilo?
Agora a resposta definitiva chegou, para o horror do Velho Hipersexuado Dave: não muito.
O sexo pode ser fantástico para os homens, mas uma sondagem feita com 500 mulheres na Gringolândia mostra que muitas delas preferem passar um dia em uma praia tropical ou jantar fora com seu namorado.
Chocante!
A sondagem foi realizada por aqueles estraga-prazeres que são os editores da revista "Redbook Magazine". Nela, perguntava-se às mulheres qual de sete atividades citadas lhes dava maior prazer.
Se perguntassem a mim, eu diria que os resultados deveriam ser suprimidos, mesmo que isso significasse a volta da censura.
A sondagem mostrou que 29% das mulheres consideravam que "relaxar em uma linda praia tropical" era a atividade que lhes proporcionava maior prazer. Outros 28% optaram por "um jantar romântico com meu marido ou namorado".
Apenas 9% escolheram "fazer sexo com meu marido ou namorado". Os moços estão precisando de alguma ajuda para elevar o nível de seu desempenho. "Uma massagem sensual" foi premiada com os mesmos 9% que o sexo. Fica claro que as mulheres são uma cambada de passivas.
Agora se preparem, caras –aqui vai a pior notícia:
Fazer sexo mal conseguiu passar à frente de "comer um pedaço de bolo de chocolate com chantilly e calda de chocolate". A gosmenta fatia de bolo de chocolate chegou a um ponto percentual apenas atrás do sexo, com sólidos 8%.
É um pouco constrangedor imaginar que se a pergunta houvesse sido formulada em termos de alguma sobremesa realmente ótima, tio Dave e a rapaziada toda poderia haver recebido uma avaliação pior do que, digamos, uma torta de morango ou uma grande fatia de queijada.
Pelo menos temos o consolo de saber que fazer sexo com a rapaziada ganhou de longe da alternativa "passear de conversível com o teto abaixado". Esta foi a atividade menos preferida. Recebeu apenas 1% dos votos.
A inteligência natural das mulheres brilha nas respostas dadas a outra pergunta, "Você costuma fazer amor de olhos abertos ou fechados?" Do total de entrevistadas, 40% disseram que não sabiam! Afinal, o que deu nesse pessoal? Claro que eu sei como faço, mas não vou contar aqui. Se você quiser descobrir, Jennifer, vai ter que abrir mão de engordar com todo aquele bolo de chocolate.
Sempre resta uma esperança, mesmo na mais negra das situações.
As respostas dadas a outra pergunta indicam que o sexo pelo menos é melhor do que a ficção.
Indagadas se o sexo nos romances é melhor do que a coisa real, 26% das mulheres disseram que a versão literária é melhor. A boa notícia é que 45% acharam que o sexo na vida real é mais gostoso.
E eu que sempre pensei que o problema fosse meu!
Vou me sentar, dar um "enter" num BBS da Internet e curtir um pouco de cibersexo em realidade virtual.
FBI ou não FBI?
O Velho Astro do Futebol Dave foi eleito para ajudar a cobrir a Copa do Mundo, na condição de ponta-direita do time da Folha. É uma escolha curiosa por parte da Folha, já que eu sei tanto sobre futebol quanto você, Joãozinho, deve saber sobre equações algébricas superiores.
Para receber suas credenciais (sem as quais é impossível assistir uma partida na condição de jornalista a trabalho), o Velho Repórter Dave foi obrigado a assinar um papel autorizando o FBI a vasculhar seu passado, em uma verificação de segurança. Isto é para garantir que o Velho Subversivo Dave não tente explodir um saco de pipoca vazio quando um dos adversários do Brasil ameaçar fazer um gol. Ou alguma coisa do tipo.
A Folha já registrou um protesto acirrado junto ao pessoal que organiza a Copa. Alguns órgãos de imprensa da Gringolândia estão ameaçando não enviar qualquer repórter para cobrir a Copa. O Velho Defensor das Liberdades Civis Dave tem uma pequena surpresa preparada para os arapongas da Gringolândia, excessivamente preocupados com segurança. Fique ligado para acompanhar os próximos acontecimentos.

Tradução de Clara Allain

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