São Paulo, quinta-feira, 26 de maio de 1994
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Alcir foi rei do samba-exaltação

SERGIO AUGUSTO
DA SUCURSAL DO RIO

Se Ary Barroso foi o rei do samba-exaltação, em que trono devemos pôr o também mineiro Alcir Pires Vermelho?
Para o historiador de música popular Jairo Severiano, há que se dividir o reino entre os dois. Concordo. E decerto hão de concordar todos aqueles que já ouviram o mesmo Chico Alves da "Aquarela do Brasil" cantar "Onde o Céu Azul É Mais Azul", uma das obras-primas do gênero.
Em quantidade, os dois talvez empatem. "Canta, Brasil", outro devaneio ufanista celebrizado por Chico Alves, foi composto por Alcir, em parceria com David Nasser, também autores de oba-obas tais como "Onde Florescem os Cafezais" e "Vale do Rio Doce". Com João Barro (Braguinha), o letrista de "Onde o Céu Azul É Mais Azul", bisou a hipérbole em "Brasil, Usina do Mundo", gravado por Déo há 52 anos.
Menos versátil que o gênio de Ubá, Alcir só compunha as melodias. A escrever letras, que eu saiba, jamais se aventurou. Esperto, juntou-se a quem entendia do riscado, como o próprio Ary (seu parceiro na marchinha carnavalesca "A Casta Suzana", 1939), Lamartine Babo (com que compôs a bela valsa "A Alma dos Violinos"), Pedro Caetano (letrista de "A Dama de Vermelho") e os já citados Braguinha e Nasser.
Braguinha foi o seu mais assíduo e venturoso consorte musical. Compunham marchinhas para o Carnaval (coadjuvados por Alberto Ribeiro) e valsas ("Velho Flamboyant") e sambas-canções ("Laura", "Minha Maria Morena") para o resto do ano. Com a marchinha "Dama das Camélias" venceram juntos um acirrado concurso de músicas carnavalescas, organizado pela Prefeitura do Rio em 1940 e de cujo distintíssimo júri faziam parte Villa-Lobos e Pixinguinha. Este votou em outra concorrente ("Malmequer"). Villa-Lobos não apenas fechou com a vencedora como fez questão de elogiar em público o cromatismo da melodia.
Grande melodista, Alcir meteu-se até a compor bolero. Apesar da letra cretina, cometida por Nasser, "Esmagando Rosas" teve ao menos o mérito de entrar para o repertório de Agustin Lara, notório por só cantar e gravar boleros de sua própria autoria.

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