São Paulo, sexta-feira, 27 de maio de 1994
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Grupo prepara homenagem a Cacilda Becker

MARIO VITOR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Depois de "Ham-let", o Oficina mostrará a primeira parte do que Zé Celso chama de trilogia da "Cacilda!". A companhia trabalha há tempos em "Mistério Gososo", de Oswald de Andrade (já apresentada na rua durante o Carnaval, com sucesso), e "As Bacantes", de Eurípides.
Em seu projeto de alcançar público mais amplo, o grupo negocia ainda a transmissão de suas peças pela TV e deve mostrar "Galileu Galilei" no dia 25 de julho no Ibirapuera, data da chegada do primeiro homem à Lua.
Em 15 de junho, quando faz 25 anos da morte da atriz Cacilda Becker, haverá um ensaio de "Cacilda!" aberto ao público, com direção de Marcelo Drummond.
Para Zé Celso, Cacilda é uma deusa, "no sentido de que Ayrton Senna é um deus".
O texto foi escrito em 1990 pelo próprio Zé Celso, que compôs também as 25 músicas.
Ele quer usar a trilogia para discutir o teatro atual. A seguir, trechos da entrevista de Zé Celso à Folha

Folha - Por que uma peça sobre Cacilda Becker, sendo que vocês já chegaram a encenar "Mistério Gososo" e vêm trabalhando em "As Bacantes" há anos?
Zé Celso - Cacilda Becker nasceu em 1921 e morreu em 1969. Ela viveu durante toda a época da potência da arte brasileira, do modernismo, da profissionalização da arte, da politização da arte.
Sua morte coincide com o encerramento de todo um ciclo em que ela se destacou no sentido da construção de uma política para a arte, no sentido de profissionalização da atividade teatral, de sua vinculação com a poesia, a música e a literatura.
Ela é uma deusa, no sentido que o Ayrton Senna é um deus, deus de São Paulo, deus da cidade dos automóveis, deus do homem que chega no primeiro mundo, do homem que é o mais veloz de todos.
Todos os brasileiros queremos isso, a gente tem essa coisa dentro de nós, chame do que quiser.
Folha - Em que, especificamente, essa peça poderia ter importância agora?
Zé Celso - Num momento como esse, Cacilda seria uma grande aliada. Porque ela pegou todo o ego dela e botou a serviço do trabalho.
Essa é uma mulher que dizia `o meu teatro são todos os teatros'. É uma mulher que não existe mais que tem que ser replantada.
Folha - Mas, por que não "As Bacantes" que parece aprofundar o trabalho ritual exibido em "Ham-let"?
Zé Celso - Porque justamente Cacilda é um mito moderno e comum.
Nós não pretendemos trabalhar desvinculados das pessoas que fazem arte em todas as áreas. E a Cacilda defendia exatamente isso: o teatro como ponto de encontro.

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