São Paulo, sexta-feira, 27 de maio de 1994
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Vamos falar de rosas

JOSÉ SARNEY

A rosa sempre exerceu uma sedução muito grande na mente dos políticos. Para uns pela atração de sua beleza em si e noutros pelo seu profundo vermelho, a cor do sangue, uma passagem rápida para a mensagem revolucionária. Os socialistas a escolheram como símbolo e em Portugal, no 25 de abril, em vez da rosa, saíram os cravos vermelhos e a Revolução passou a ser a dos Cravos.
E sua vinculação com pessoas? Rosa Luxemburgo, essa apaixonante figura humana, que discutia com Bernstein sobre revolução ou reforma, encheu nossa mocidade com a imagem da mulher guerreira, intelectual e dura. Não me lembro de ter visto um retrato seu, mas todos a julgavam bela, embora possa ter sido uma bruxa, mas era Rosa, Rosa, a Vermelha.
Mas não é só de política que vivem as rosas e, como dizia Gonçalves Crespo, "nem tudo são rosas". Carlos Lacerda era um apaixonado, apaixonados somos todos nós, mas das rosas ele era um fanático. Era cultivador delas no seu sítio Rocio, tinha o seu jardim, o único lugar em que abandonava a rebeldia. Ficava calmo entre elas, conhecendo-as pelo nome, distinguindo-as pelas cores, tonalidades, nelas descobrindo sentimentos, sabendo-as de coração.
Os poetas sempre estiveram namorando as rosas e inventando coisas para elas.
Mas de todas as rosas da poesia nenhuma ficou mais célebre do que a Rosa de Malherbe. Esse Malherbe que fez odes aos índios do Maranhão quando foram batizados em Nôtre Dame, levados pelo sr. Razzily e sucesso em Paris. Só que todos morreram de gripe. As rosas de Malherbe são aquelas do seu poema tentando consolar Du Perrier sobre a morte de sua filha quando ele diz que ela "viveu, como vivem as rosas, o espaço de uma manhã".
Rimbaud tem um verso que muito me agrada quando ele fala do céu: "A doçura florida das estrelas"... Mas foi Baudelaire, com as flores do mal, quem fundou a poesia moderna.
Temos muitas rosas, a rosa-dos-ventos, a rosa de ouro, aquela que o papa benze. O domingo das rosas, aquele que é o oitavo depois da ascensão. Temos a Santa Rosa, padroeira de Lima, de face branca, de uma brancura de cal, com a corrente dependurada.
E as rosas do mundo interior? Rosa do Japão, que nada mais é que a camélia? E a rosa da China, esta que eu conheci, pequena, de um amarelo alaranjado.
O nosso d. Pedro 1º, depois de fazer o que tinha feito com dona Leopoldina, ao casar-se de novo com dona Amélia de Leuchtenberg, criou a Ordem da Rosa, na qual estava cunhado o dístico "amor de fidelidade".
Mas a mais bela das rosas na nossa imaginação é a Rosa de Jericó. Aquela que cresce nas areias úmidas do Oriente, pequena, branca; o vento arranca as roseiras, que ficam secas; e, quando molhadas, brotam de novo a rosa e a vida.

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