São Paulo, domingo, 29 de maio de 1994
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Gaúchos são principal influência

FERNANDO MOLICA
DA SUCURSAL DO RIO

A história do Rio Grande do Sul e do menino pobre nascido na cidade de Carazinho (RS) se misturam no perfil intelectual de Leonel Brizola.
Além da herança trabalhista de Getúlio Vargas, Brizola cultua a tradição republicana e laica de Júlio de Castilhos (1860-1903), ex-presidente (o equivalente a governador) do Rio Grande do Sul.
"No exílio, ele andava sempre com um manifesto de Júlio de Castilhos no bolso", diz João Carlos Guaragna, antigo colaborador.
Em 1986, ao receber do economista Roberto Mangabeira Unger alguns livros sobre ciência política, Brizola foi à estante e voltou com um volume que resumia o ideário de Castilhos.
"Vamos fazer uma coisa: eu leio os seus (livros) e você lê o meu", disse para Unger, pedetista e professor da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos.
Os clássicos do pensamento socialista nunca desfrutaram do mesmo prestígio.
Brizola compara o marxista a alguém que trabalha com um microscópio, que "enxerga a molécula de uma folha mas não distingue a floresta".
Embora de origem católica, Brizola deixa transparecer outra marca do passado: a influência do pastor metodista Isidoro Pereira.
Ainda adolescente, Brizola morou na casa de Isidoro durante dois anos. Chegou a fazer pregações na igreja do pastor.
"As falas do Brizola são recheadas de imagens rurais, de inspiração bíblica. Ele fala através de parábolas", comenta o vereador do PSB Saturnino Braga, ex-prefeito do Rio.
Ante eventuais contestações ao domínio que exerce no PDT, Brizola costuma utilizar uma de suas imagens favoritas. Diz que os dissidentes estão "costeando o alambrado" – referência aos bois que estão prestes a ultrapassar as divisas de uma fazenda.
Em dez anos, pularam a cerca da fazenda de Brizola, entre outros, todos os quatro últimos prefeitos do Rio: Saturnino e Jamil Haddad (ambos foram para o PSB), Marcello Alencar (hoje no PSDB) e César Maia, eleito pelo PMDB.
Se Isidoro significou para Brizola o acesso a um conhecimento mais cultivado, as primeiras letras, diz ele, com orgulho, aprendeu com a própria mãe.
Oniva era a viúva do maragato José Brizola, morto em 1923 na luta contra os chimangos de Borges de Medeiros, então no poder no Rio Grande havia 20 anos.
Em 1936, Brizola ganha uma passagem da prefeitura de Carazinho e vai estudar em Porto Alegre, onde trabalha como engraxate, trocador de farmácia e ascensorista.
Ingressa no curso de Engenharia da Universidade do Rio Grande do Sul em 1943, mesmo ano em que se filia ao PTB.
Deputado estadual já em 1947, Brizola conclui o curso só em 1949. Jamais exerceu a profissão. Optou pela política.

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