São Paulo, domingo, 29 de maio de 1994
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Brizola tentou luta armada contra militares

FERNANDO MOLICA
DA SUCURSAL DO RIO

Brizola é responsável, já no exílio, por quatro tentativas de derrubar, pela luta armada, o regime militar.
Essas iniciativas, somadas a uma história de confrontos com o capital internacional e com os próprios militares, fizeram a fama do "Brizola incendiário", que ele tem procurado descaracterizar desde 79.
As articulações para uma insurreição duram de 64 a 68 e não chegam a ser deflagradas. A movimentação de Brizola no Uruguai é acompanhada pelo governo brasileiro, que, em 15 de maio de 1965, solicita seu "internamento" fora de Montevidéu.
Ele é mandado para Atlântida, balneário a 340 km da fronteira com o Brasil, onde seria obrigado a morar até 1971.
As tentativas de insurreição tinham como base soldados e sargentos da Brigada Militar gaúcha e do Exército e um contingente civil de 500 pessoas, entre elas o sociólogo Herbert de Souza, o Betinho.
A organização da luta armada envolveu a compra de uma área no Uruguai, na região de Pando. De acordo com o ex-dirigente do PTB e do PDT José Gomes Talarico, as terras foram compradas com dinheiro enviado por Cuba.
José Wilson da Silva afirma que o líder cubano Fidel Castro enviou US$ 1 milhão para Brizola.
Uma das tentativas de insurreição, a "Operação Pintassilgo" termina com uma delação à Brigada Militar e a prisão de um dos conspiradores.
A guerrilha de Caparaó também foi articulada no Uruguai. Segundo o ex-deputado Bayard Boiteux, a polícia de Minas descobriu o foco guerrilheiro. Seus 14 integrantes –Boiteux, inclusive– foram presos e entregues ao Exército.
Em janeiro de 68, Brizola convoca seus principais colaboradores e declara que desistira das tentativas de insurreição e guerrilha.
Cadeia da Legalidade
O maior confronto de Brizola com os militares ocorreu com a criação da Cadeia da Legalidade, a partir da renúncia do presidente Jânio Quadros, em 25 de agosto de 1961. O vice, João Goulart, estava na China.
Os ministros militares, liderados pelo marechal Odílio Denis, manifestam-se contra posse de Goulart, ex-ministro do Trabalho de Vargas e tido como comunista.
Brizola, governador do Rio Grande do Sul, entrincheira-se no palácio Piratini (sede do governo), guarnecido pela Brigada Militar (a PM do Estado) e por civis que recebem armas do governo.
Na manhã do dia 28, é interceptada mensagem em que o general Orlando Geisel ordena o bombardeio do Piratini.
Brizola requisita a rádio Guaíba e monta um estúdio nos porões do palácio. Às 11h, faz um pronunciamento dramático: "Que nos esmaguem, que nos destruam, que nos chacinem neste palácio".
É divulgada a notícia de que sargentos da Base Aérea de Canoas (a 19 km de Porto Alegre) haviam impedido que oficiais cumprissem a ordem de bombardear o Piratini.
O impasse é superado com a adoção do parlamentarismo. Goulart retorna ao Brasil no dia 1º de setembro e aceita a solução parlamentarista, que só viria a ser revogada no plebiscito de 1963.
Abril de 64
Em abril de 64, Brizola tenta reeditar a Cadeia da Legalidade para impedir o sucesso do movimento militar.
Lidera uma manifestação em Porto Alegre, discursa na rádio Farroupilha e sugere a João Goulart que o nomeie ministro da Justiça para comandar a resistência.
Goulart, porém, diz temer um banho de sangue e parte para o exílio no Uruguai.
A derrota marca o fim da primeira etapa da vida política de Brizola, que, na condição de deputado federal, radicalizara suas posições durante o governo Goulart e o pressionara a implementar as reformas de base –reformas agrária, tributária, bancária, constitucional e administrativa.

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