São Paulo, domingo, 29 de maio de 1994
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Fim da inflação quebra bancos estaduais

JOÃO CARLOS DE OLIVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Nenhum candidato a presidente sabe como resolver o problema dos bancos estaduais.
Há 26 deles em atividade no país. No ano passado, segundo a consultoria Austin Asis, o conjunto registrou prejuízo operacional de US$ 3,9 bilhões.
Só conseguiram fechar seus balanços com resultado positivo graças ao lucro inflacionário, que foi de US$ 5,124 bilhões.
Alberto Borges Matias, sócio da consultoria, diz que parte do ganho inflacionário foi obtido com estratagemas. Um deles: os respectivos tesouros estaduais e companhias estaduais deixam, por algum tempo, recursos em conta corrente.
"Sem inflação, os bancos estaduais vão quebrar", afirma o candidato à Presidência pelo PPR, o senador Espiridião Amin.
Amin tem experiência com o problema. Em 1987, o então governador de Santa Catarina viu o Banco Central (BC) intervir em cinco instituições, inclusive a do seu Estado.
"Foi uma decisão do presidente Sarney para atingir a oposição, especialmente o Brizola (então governador do Rio)".
Amin justifica sua avaliação: um dos bancos que constava da lista de intervenção, o do Pará, escapou; depois da intervenção, o Banco de Santa Catarina conseguiu alongar o perfil da sua dívida –justamente o que pedia Amin para evitar a intervenção.
Ézio Cordeiro, coordenador do programa do PDT, também diz que a intervenção foi política. Dizendo-se contra a privatização dos bancos estaduais, afirma que é preciso rever seu papel.
"A função dos bancos estaduais é estimular o fomento, fundamentalmente da pequena e média empresa e da agricultura", define Marco Aurélio Garcia, coordenador do programa do PT.
Pois é justamente a atividade rural que está "dilapidando os bancos federais, como o Banco do Brasil", diz Matias.
Para ele, o BB repassa empréstimos a taxas subsidiadas, "até pela pressão por anistias exigidas pelo Legislativo, com forte presença da chamada bancada ruralista".
Um dos integrantes da equipe de governo de Orestes Quércia (PMDB), Luiz Gonzaga Belluzzo, diz que somente poderá definir o papel dos bancos estaduais depois que forem resolvidas as bases de um sistema público para o financiamento à produção.
Em 1991, Quércia, então governador, tomou US$ 950 milhões do Banespa como antecipação da receita do ICMS (na época o patrimônio líquido do banco era de US$ 1,03 bilhão).
Já o PSDB defende que a estrutura dos estaduais seja o mais enxuta possível e é contra que o BC socorra estas instituições.
O candidato do PL, deputado Flávio Rocha, foi o único a defender a privatização "se possível" dos bancos estaduais.
No total são 89 instituições financeiras estaduais que atuam no mercado. Desde fevereiro de 1987, 60 delas foram submetidas ao regime de administração especial (intervenção do BC) ou ao processo de liquidação extrajudicial.
Segundo documento preparado pelo BC na gestão de Gustavo Loyola e aprovado em fevereiro de 1993, em dez anos foram gastos nas tentativas de recuperação do setor US$ 2,315 bilhões.
Outros US$ 31,589 bilhões foram usados no pagamento de credores e na cobertura de despesas de liquidações extrajudiciais.
O documento localiza no tempo o início das dificuldades dos bancos estaduais: as eleições de 1982.

Colaboraram a Reportagem Local e as sucursais do Rio e de Brasília

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