São Paulo, domingo, 29 de maio de 1994
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Mar "engole" 10% das praias do Ceará

PAULO MOTA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM FORTALEZA

A erosão costeira já destruiu cerca de 10% dos 573 quilômetros de praias do Ceará. O fenômeno é motivado pelo avanço das águas do mar sobre a faixa de areia.
A repetição contínua do impacto das ondas provoca a destruição de tudo o que existir na praia (dunas, casas, árvores e bancos de areia).
Segundo estudo do geólogo Wagner Castro, da Semace (Superintendência do Meio Ambiente do Ceará), a erosão é causada pela ação conjunta das fortes ondas "seawel" que atingem o Estado em janeiro e fevereiro e da ocupação desordenada das dunas.
Formadas a partir de tempestades na Groenlândia (no oceano Atlântico, a cerca de 4.000 km de Fortaleza), as "seawel" alcançam três metros de altura e atingem as praias com grande intensidade.
Segundo ele, as areias que migram das dunas para as praias seriam o "mecanismo natural" que reduziria a ação das ondas.
"Como boa parte das dunas estão ocupadas por casas de veraneio ou plantações de coqueiros, este mecanismo foi interrompido."
Segundo Castro, "a ausência de material rochoso nas margens dificulta a formação de barreiras naturais", agravando o problema.
O superintendente da Semace, Cândido Antônio Neto, diz que a falta de "tecnologia específica" é a principal dificuldade para a elaboração de uma "política global" de combate à erosão costeira.
Segundo ele, o Estado firmou convênio com o Banco Interamericano de Desenvolvimento para realizar um diagnóstico do problema e planejar seu combate.
O superintendente diz que a Semace orienta a solução dos casos mais graves. Cita o exemplo de Pecém (60 km a oeste de Fortaleza), onde os moradores construíram barreiras de pedras e madeira para impedir o avanço do mar.
Prejuízos
Na região da praia de Iparana (20 km a oeste de Fortaleza), uma das mais atingidas pelo fenômeno, houve desvalorização de até 50% das casas de veraneio e terrenos situados próximos ao mar, diz o corretor imobiliário Carlos Nobre.
"As pessoas têm medo de investir numa praia ameaçada e que perdeu muito de sua beleza natural." A região já foi uma das mais procuradas por veranistas.
Na praia de Caponga, em Cascavel (53 km a leste de Fortaleza), a erosão provocou o fechamento de barracas de comida e bebida.
Segundo o barraqueiro Cláudio Nonato, 70% das barracas já fecharam: "A praia ficou diferente e os fregueses desapareceram."
João Meneses mudou de ramo em outubro, quando sua barraca na praia do Pacheco (15 km a oeste de Fortaleza) foi destruída pelo mar.: "Ela caiu quando eu estava trabalhando. Quase morri."
O médico Ricardo Brito colocou à venda por US$ 25 mil em abril sua casa no Pecém. Segundo ele, o imóvel –situado a 300 metros de uma rua engolida pelo mar– valia US$ 30 mil há cinco anos.

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