São Paulo, domingo, 29 de maio de 1994
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Ondas destruíram 70 casas desde 82

PAULO MOTA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM FORTALEZA

A praia de Iparana é considerada o "epicentro" do fenômeno. Desde 1982, as ondas já provocaram a destruição de 70 casas.
A praia, que atraía centenas de banhistas nos anos 70, transformou-se numa espécie "canyon" (grande depressão) litorâneo, formado por dunas erodidas.
Para o geólogo Wagner Castro, os problemas começaram na década de 40, com as obras do porto de Mucuripe. Ele diz que a construção estabeleceu um desequilíbrio ambiental, alterando o ritmo das ondas e o movimento das areias.
As praias situadas a oeste do porto encolheram e as do leste aumentaram. "Nos últimos 18 anos, a praia do Futuro aumentou sua área em 750 metros, enquanto a de Iparana diminuiu 380 metros."
Para evitar que o mar avançasse sobre os bairros de Fortaleza situados nas margens das praias da zona oeste, foram construídos 12 espigões de pedras. Ao mesmo tempo em que diminuíam o impacto da ondas, os espigões transferiam o problema para as praias vizinhas.
Segundo Castro, o último espigão foi construído em 82 na praia da Barra do Ceará, perto de Iparana. Esta última passou a receber todo a carga das ondas.
O impacto ambiental teria se agravado pelo fato de que 50% da cidade está construída sobre dunas, o que impede o fluxo da areia que alimenta a região de Iparana.
Dunas
A cidade de Paracuru (90 km oeste de Fortaleza) está ameaçada de desaparecer, soterrada pela areia. Segundo a Semace, as dunas avançam 30 metros por ano.
O órgão construiu enormes redes de nylon fixadas entre as dunas por estacas de marmeleiro, criando uma barreira para desviar a areia.
Foram postos talos de coqueiro no chão e palha sobre a superfície. Ao lado da rede, foi plantada vegetação rasteira, que será substituída naturalmente por árvores maiores, capazes de fixar a areia.
Para o superintendente da Semace, Cândido Antonio Neto, a cidade foi erguida "equivocadamente" numa região de dunas.
Ele diz que uma situação parecida existe em Almofala (260 km a oeste de Fortaleza), onde a igreja matriz ficou soterrada de 1896 a 1945. Após 45, a movimentação das dunas fez a igreja reaparecer.

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