São Paulo, domingo, 29 de maio de 1994
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Poupança vira vedete na transição

JOÃO CARLOS DE OLIVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

"Tem que mudar a tributação". A afirmação é de Luiz Carlos Mendonça de Barros, do Banco Matrix, mas poderia ser de qualquer dos executivos consultados pela Folha para responder à seguinte indagação: o que falta definir na transição para o real?
Mendonça de Barros completa: "Se não mudar, todo o dinheiro vai migrar para a poupança."
A caderneta é a única aplicação isenta de Imposto de Renda (IR) e foi beneficiada pelo novo cálculo da TR (Taxa Referencial).
Hoje em dia, as aplicações financeiras pagam IR sobre o ganho real. Ou seja, pagam 30% de IR sobre o percentual do rendimento que superar a variação da Ufir (Unidade Fiscal de Referência).
Mas em julho, o primeiro mês do real, a Ufir deverá ficar congelada. Terá variação zero.
"Se a Ufir continuar andando, por que não se pode mexer no câmbio, nos salários?", indaga Mendonça de Barros.
Assim, o IR vai passar a incidir sobre todo o rendimento.
Ricardo de Souza Watanabe, do Banco Europeu, preparou um estudo que simula o impacto do IR nas aplicações realizadas na transição.
Pelo estudo, somente por conta do congelamento da Ufir e da manutenção da alíquota atual, uma aplicação feita no dia 30 de junho (na véspera da nova moeda), que tivesse rendimento de 7,04%, pagaria 22,67% de IR sobre o total.
"Quanto maior o juro, maior o imposto", diz Watanabe.
"Podemos chegar a uma situação em que o juro não satisfaz o aplicador, mas consegue matar o devedor", conclui Mendonça.
Em outras palavras, a solução do problema da tributação é que vai definir se "todo mundo vai para a poupança ou se os fundos vão continuar competitivos", como afirmou Francisco Lafayette, administrador de fundos do Banorte.
Celso Scaramuzza, diretor da área financeira do Unibanco, diz que estudo feito pelo banco mostra que, de 1992 até hoje, na média "o investidor pagou de IR de 2,5% a 3% do rendimento bruto". E completa: "É fundamental que o governo sinalize alguma mudança da tributação".
Além disso, o governo pode aumentar o redutor da TR em julho. Hoje é de 1,2%.

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sobre aplicações na pág. 2-4.

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