São Paulo, domingo, 29 de maio de 1994 |
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Bebeto diz que será o astro do Mundial
FERNANDO RODRIGUES; MÁRIO MAGALHÃES
Aos 30 anos, o jogador baiano disputa, a partir de 20 de junho, contra a Rússia, seu último Mundial. No mesmo dia, sua mulher, Denise, deve ter o terceiro filho do casal, Mateus. Com a fama de chorão –costuma se emocionar facilmente–, Bebeto alimenta polêmicas desde o começo dos treinos da seleção, há 12 dias. Primeiro, disse que é um erro depositar esperanças no centroavante Ronaldo, 17, nesta Copa. Depois, negou que tivesse se recusado a bater o pênalti que teria dado o título espanhol ao seu time, o La Coruña. O campeão foi o Barcelona, equipe de Romário. Já jogou 64 partidas pela seleção. Em 4.353 minutos em campo, marcou 29 gols, nove a mais do que Romário. Porém, Bebeto perde na média de gol por partida: 0,45 contra 0,55 do companheiro de ataque. Depois de um treino físico, com a pulsação variando entre 93 e 103 batimentos por minuto, ele deu a seguinte entrevista à Folha. Folha - O argentino Maradona foi o astro da Copa de 86. Em 90, foi a vez do alemão Matthaeus. Quem vai brilhar este ano nos Estados Unidos? José Roberto de Oliveira - Há muita gente boa nessa briga. O Baggio (italiano), o Romário e eu. Também gosto muito do Muller. Folha - Essa é sua última chance de ser campeão mundial? Bebeto - Com certeza. Na Copa de 90 joguei poucos minutos porque me contundi. Sou capaz de qualquer coisa para vencer agora. Só falta isso na minha vida. Folha - Você foi vice-campeão espanhol, conhece o futebol do continente. Que vantagem pode ter o futebol brasileiro sobre o europeu? Bebeto - O que mais me chama a atenção são os nossos laterais. Eles jogam avançados, como pontas. Veja o meu caso com o Jorginho: ele me passa e corre para receber na frente, fazendo a ultrapassagem. Não me preciso mais nem olhar. Sei onde ele estará. Os europeus não sabem fazer isso. Folha - Quem será nosso adversário mais difícil na primeira fase do Mundial? Bebeto - Acho que a Rússia. Conheço seis russos do Campeonato Espanhol, todos eles muito bons. A Suécia tem a mesma base de 90. Ainda não consegui vídeo com jogos de Camarões. De camarões, só entendo de comer no prato. Folha - Você fez "greve de silêncio" por um dia, na primeira semana de treinos. Por quê? Bebeto - Porque foi uma babaquice dizerem que eu tinha pipocado, ficado com medo de bater o pênalti que daria o título ao La Coruña. Não cobrei porque já tinha errado dois no campeonato e o técnico escolheu outro para cobrar, que infelizmente errou. Folha - No ano passado você disse que queria voltar para o Brasil, de preferência para o Vasco. Há jogadores, como o zagueiro Mozer, que não querem mais voltar ao país. Bebeto - Eu ainda não sei o que vou fazer da vida, mas gosto muito do Brasil. Você teme sequestros como o do pai de Romário? Bebeto - Esse sequestro do pai do Romário foi muito estranho. Não consigo acreditar. De fato me causou preocupação. Folha - Você tomou alguma medida preventiva? Bebeto -Algumas. Mas não vou me preocupar muito porque tenho amigos, muitos amigos na polícia. Mesmo assim, estou tomando os meus cuidados. Folha - Você já escolheu em quem votar para presidente? Bebeto - Ainda não, esse é um negócio complicado, deixa o povo decidir. Folha - Você votou em quem em 1989? Bebeto - Aí é que complica. Votei no Collor e me arrependi. Folha - Você abandonou a seleção brasileira quando o técnico era o Falcão. Sofreu agressão física de outro treinador da seleção, Carlos Alberto Silva. Por trás da aparência infantil está um homem diabólico? Bebeto - Qualquer pessoa que me conhece sabe que não, que sou de paz. Folha - Mas você criticou Ronaldo, disse que quer levar Muller –e não outro– para jogar no La Coruña e reclamou para amigos que Romário quase não lhe passou a bola no jogo contra o Uruguai, na classificação do Brasil para a Copa. Bebeto - Não é verdade. Todo mundo sabe que me dou bem com o baixinho (Romário, 1,68 m de altura). Também não tem nada a ver dizer que eu critiquei o Ronaldo. Ele é um grande jogador, será útil ao futebol do país. Folha - Você tem parecido chateado, abatido. Bebeto - É que eu deveria ter sido recebido no Brasil com todas as homenagens, por ter sido vice-campeão espanhol por um clube pequeno. Mas, ao contrário, as pessoas atiram pedras devido ao caso do pênalti. Folha - Romário tem dito que gostaria de ver a seleção com mais do que os atuais dois atacantes, opção de Parreira. Você também pensa assim? Bebeto - Rapaz, não me mete nisso. Não quero entrar no trabalho do Parreira. Quem decide isso é ele, não os jogadores. Folha - Depois da vitória contra a Argentina, em abril, você disse que jogando ao lado de Muller rendia mais, porque ele passa mais a bola do que Romário. Você acha que comentários como esse podem ajudar seu amigo Muller? Bebeto - Não quero escalar, ajudar ou prejudicar ninguém. Apenas acho que o Muller, como o Romário, pode ser decisivo para o Brasil conquistar, enfim, o tetra. É um atacante que qualquer seleção gostaria de ter. (FR e MM) Texto Anterior: E a seleção botou mais água no feijão Próximo Texto: Veja carreira do atacante Índice |
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