São Paulo, domingo, 29 de maio de 1994
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EUA gastam mais com desabrigados

FERNANDO CANZIAN
DE NOVA YORK

O governo dos Estados Unidos quer dobrar em 1995 os gastos federais com os desabrigados americanos, pessoas que não têm onde morar e que se multiplicam pelas ruas da maioria das cidades.
O que o presidente Bill Clinton quer gastar em um único ano equivale à metade do que foi gasto entre 1987 e 1993.
A proposta orçamentária, de US$ 2,15 bilhões no total, precisa passar pelo Congresso e provar que tem medidas mais qualitativas do que quantitativas.
O número exato de desabrigados nos EUA é desconhecido. Pode chegar a 3 milhões no final deste ano, segundo estudo do próprio Congresso.
No censo de 90, visitas feitas em um único dia a 39 mil instituições onde muitos desabrigados se concentram acharam 459.209 pessoas sem ter onde morar.
O problema vem se agravando nos últimos anos e tem se transformado em um ralo para verbas públicas sem apresentar resultados satisfatórios.
O diferencial da nova proposta é concentrar o dinheiro em iniciativas que têm mostrado resultados nos últimos anos.
Entre as 39 mil instituições que prestam algum tipo de ajuda aos desabrigados americanos existem experiências onde 70% das pessoas que entram acabam sendo colocadas novamente no mercado de trabalho e ganhando o suficiente para pagar um aluguel.
Essas instituições fornecem o básico, como alimentos e roupas, e ajudam a procurar empregos. O simples fato de colocarem um telefone para retornos de propostas de trabalho tem dado mais resultado do que milhares de dólares em paliativos.
Outra iniciativa que tem transformado o conceito de ajuda aos desabrigados é a de ajudar pessoas de classes mais pobres no momento exato em que estão passando por uma crise financeira aguda.
Nos últimos dez anos, o número de pessoas que ganham menos que o equivalente à linha de pobreza nos EUA (US$ 13,3 mil por ano para uma família de quatro pessoas) subiu 50%, totalizando mais de 30 milhões de pessoas –13% da população.
Esse fato colocou uma massa enorme de pessoas na borda do círculo vicioso dos desabrigados. Uma vez na rua, as chances de voltar a trabalhar e pagar um aluguel caem para menos de 20%.
Cerca de 40% dos desabrigados americanos são compostos de famílias inteiras, segundo a Coalizão para os Desabrigados, órgão que atualiza as estatísticas sobre o assunto nos EUA.
Mais de um terço dos desabrigados americanos são considerados "quase irrecuperáveis". Esta parcela é constituída de doentes mentais, maníaco-depressivos e esquizofrênicos que vivem nas ruas.

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