São Paulo, domingo, 29 de maio de 1994
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Shamir é `deportado de seu país'

SÉRGIO MALBERGIER
DE LONDRES

Yitzhak Shamir foi o premiê de Israel de 1983 a 1992 (exceto por 25 meses quando foi vice-premiê e chanceler).
Neste período Israel retirou maior parte das tropas do Líbano, recebeu sem reagir os Scuds de Saddam Hussein e iniciou negociações com palestinos, Síria, Jordânia e Líbano.
"Summing Up, An Autobiography" (}Recapitulando, Uma Autobiografia, Weidenfeld & Nicolson) revela a história e visão pessoal de um dos principais personagens do Oriente Médio.
Shamir nasceu num "lar sionista" em 1915 em Rujenoy, uma cidade polonesa de 5.000 habitantes (3.500 deles judeus).
Estudando Direito em Varsóvia, ele deixou a Polônia rumo à então Palestina britânica em 1935. Os pais e as duas irmãs ficaram na Polônia e foram mortos nos campos de extermínio nazistas. "Eu não posso esquecer nem vou perdoar."
O trauma nazista iria marcar a sua visão de que Israel deve colocar a segurança dos judeus acima de qualquer risco.
Na Palestina, Shamir se alistou no Irgun e depois no Lehi (ou Stern), grupos clandestinos judaicos responsáveis por atos terroristas contra a britânicos e árabes.
Foi preso pelos britânicos duas vezes. Em 1946 foi deportado para a Eritréia (nordeste da África).
"Como um estrangeiro se atreve a me deportar de meu país?", pergunta –pensamento que deve ter passado pela cabeça de palestinos deportados por Israel.
Anos na clandestinidade lhe renderam um posto no serviço secreto, de onde saiu para entrar na política. Filia-se ao Herut, partido liderado por Menachem Begin e principal força da coalizão Likud.
Begin seria eleito em 77 o primeiro premiê de direita de Israel e assinaria a paz com o Egito em 79 (Shamir votou contra). Com a renúncia de Begin em 1983, Shamir assumiu o posto de premiê.
Defendendo e estimulando a colonização judaica na faixa de Gaza e na Cisjordânia, ele conseguiu colocar as relações entre Israel e EUA em seu pior momento.
Mas veio a invasão do Kuait pelas tropas de Saddam Hussein em agosto de 90, que mudou a história da região. Reaproximou Israel e EUA e colocou os israelenses do mesmo lado de países árabes moderados e da inimiga Síria.
A decisão de não reagir aos ataques de mísseis Scud contra Tel Aviv, que poderia ameaçar a coalizão anti-Iraque, foi "a mais penosa" da vida de Shamir, mas ele afirma que "a moderação foi um sinal de nossa força".
Saddam derrotado, os EUA despacharam o secretário de Estado James Baker para levar israelenses e árabes à mesa de negociação.
Para desespero de seus parceiros de governo da extrema direita, Shamir aceitou participar da conferência de paz de Madri, em outubro de 1991. Os extremistas retiraram seu apoio ao governo e provocaram a convocação de eleições.
Os israelenses elegeram os trabalhistas e Shamir passou à oposição, não poupando críticas ao governo de Yitzhak Rabin e seu acordo com Iasser Arafat. "A paz com a OLP é a paz do cemitério", diz.

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