São Paulo, domingo, 29 de maio de 1994
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Prova de matemática tem drogas, tiros e roubo

KEVIN JOHNSON; GARY FIELDS
DE ARLINGTON

USA Today
Prova dematemática tem drogas, tiros e roubo
KEVIN JOHNSON e
GARY FIELDS
Um professor que, segundo pais de alunos, deu a seus alunos de sexta série uma prova de matemática com problemas envolvendo traficantes de drogas e tiroteios, foi suspenso enquanto se realiza uma investigação.
A prova foi dada no último dia 20 a uma classe de 30 alunos da escola pública Horatio N. May, em Chicago.
Os pais querem que o professor, Charles Routen, 45 anos, seja demitido. É o primeiro ano em que ele leciona.
O Conselho Escolar Local ao qual a escola se subordina, de 11 membros, votou no dia 24 pela demissão do professor, mas a porta-voz do Conselho de Educação, Lauri Sanders, disse que apenas sua entidade tem autoridade para demiti-lo.
"Problemas deste tipo não deveriam ser apresentados a crianças", diz Elaine Houston, mãe das gêmeas Latrice e Latrina, 13.
"Esse homem não deveria ser admitido à sala de aula", disse Theresa Welch, cuja filha Ebony, 11, levou uma cópia da prova para casa porque não conseguiu entendê-la.
"Não mando minha filha à escola para ela aprender a cortar carreiras de cocaína, ser prostituta, vender drogas ou roubar um carro", disse.
Alguns dos problemas constantes da prova eram:
– "Raoul está cumprindo pena de prisão de seis anos por latrocínio (roubo seguido de morte). Ele conseguiu US$ 10 mil com o assalto. Se sua mulher gasta US$ 100 por mês, quanto dinheiro vai sobrar quando ele sair da cadeia, e a quantos anos de prisão ele será condenado por matar quem gastou seu dinheiro?"
– "José tem 2 onças (cerca de 28 gramas) de cocaína. Ele vende uma pedra a Jackson por US$ 320 e 2 gramas a Billy Joe a US$ 85 o grama. Quanto ele conseguirá pelo restante da cocaína, se não a dividir em carreiras?"
"Não vejo nada de errado na prova", diz a estudante Natasha Chambers, 13 anos. "Ele escreveu um problema na lousa (sobre o número de balas num fuzil AK-47), e disse que não éramos obrigados a resolver. Mas a maioria resolveu."
Sam Hamilton, 14 anos, discorda dela. "A vida é assim. Mas eu não gostei, porque não é isso que deveriam nos ensinar na escola", disse ele.
Alguns professores comentaram que a prova soava como uma paródia de prova que vem circulando entre educadores há meses.
"Acho que ninguém tinha levado a idéia a sério", disse Russ White, superintendente de escolas em Wilmington.
Mas ele acrescentou: "Não posso imaginar que um professor tenha realmente dado essa prova em sala de aula".
Cynthia Bailey, cujo filho estuda na classe em questão, disse que Routen admite que cometeu um erro e ofereceu dua demissão.
"Ele explicou que talvez essa fosse a única maneira pela qual pudesse criar um relacionamento com as crianças", disse ela.
A psicóloga educacional Linda Kreger comentou: "Com alunos dessa idade, os professores, mais do que os pais, são o modelo que eles seguem. Se você tem um modelo que fala em cortar carreiras de cocaína e trabalhar como cafetão, como espera que elas reajam?"

Tradução de Clara Allain

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