São Paulo, segunda-feira, 30 de maio de 1994
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Grandes empresas aderem à autogestão

CRISTIANE PERINI LUCCHESI
DA REPORTAGEM LOCAL

Empregados da produção trabalham sem chefe, cartão de ponto ou revista na portaria.
Equipes autogerenciáveis de trabalho adquirem poder de contratar ou demitir, controlar suas horas extras, treinar, planejar e até gerir um orçamento próprio.
É o fim da divisão hierárquica do trabalho.
A nova forma de organização, que parece pura ficção científica para nós, ocidentais, se tornou realidade e já está no Brasil.
Empresas do porte da Rhodia, Delco ou Inepar por exemplo, já estão funcionando dessa forma.
"De três anos para cá, os modelos hierárquicos tradicionais de organização vêm dando lugar a desenhos orientais, baseados em grupos de trabalhos interligados como uma rede", afirma Eduardo Gusso, gerente do Processo Rhodia de Excelência .
Gusso vai mais longe: "E´uma tendência inexorável em todo o mundo. As empresas que não mudarem, não vão sobreviver à concorrência ".
A nova forma de gerenciamento ajuda a reduzir o "desperdício de
competência" e por isso traz ganhos de produtividade, qualidade e lucro, segundo Gusso.
Para a adaptação à chamada administração participativa é necessário uma mudança cultural nas empresas e no próprio conceito que se tem do trabalho.
"Hoje, quando o homem vai trabalhar, ele deixa o coração em casa o cérebro no armário e só entra com sua força física. Na nova organização, nós precisamos do homem inteiro", diz Gusso.
O novo trabalhador da produção toma decisões, precisa saber lidar com um microcomputador, conhecer matemática, ter pensamento crítico e ter criatividade.
A tecnologia é parte integrante desse processo de mundança.
É ela que permite que, no processo produtivo, as tarefas mecânicas fiquem com as máquinas .
É a tecnologia que garante, também, a comunicação mais imediata, por intermédio de redes e microcomputadores .
Muito treinamento, troca de informações, confiança e respeito mútuo são indispensáveis .
"Desconfiança gera desconfiança ", diz Gusso.
Por isso, afirma Gusso, um dos primeiros passos para se implantar a administração participativa é eliminar os controles que a empresa exerce sobre os funcionários.
"Esses controles geram desconfianças e têm custos ", afirma.
Os times ou equipes de trabalho passam a se autocontrolar .
Organizam seu próprio trabalho e distribuem funções.
Fazem a programação de produção e controle de qualidade .
"Com isso os indivíduos deixam de trabalhar para agradar um chefe e passam a trabalhar para melhorar o processo produtivo ".
A figura do "queridinho do chefe" – que muitas vezes prejudica o grupo mas se dá bem por causa das suas relações pessoais – não tem lugar na nova organização.
Também o chefe controlador, que não tem competência mas adora dar bronca e dizer que cada um tem que fazer, perde a sua função.
"A empresa capitalista formou um tipo de pessoa que hoje é inutil a essa própria empresa", diz.

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