São Paulo, terça-feira, 31 de maio de 1994
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O construtor de país

LUÍS NASSIF

Caminhando para os 75 anos, em sua casa, ou na sua nova frente de batalha, a Universidade Estadual de Minas Gerais, Aluizio Pimenta continua sendo um referencial relevante, um dos últimos remanescentes de uma geração de homens públicos empenhados permanentemente em reconstruir o país.
No início dos anos 60, depois de ter conquistado reputação acadêmica internacional na área de farmácia, Aluizio Pimento modernizou o ensino universitário no país, com as reformas na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
A partir de 1964, tornou-se alvo preferencial do general Guedes, o comandante do Exército em Minas, que conseguiu sua cassação. Seguiram-se anos de exílio, que lhe conferiram uma visão extraordinária de mundo. Foi diretor do Banco Mundial, professor visitante em universidades inglesas, norte-americanas, japonesas e chinesas, absorvendo as novidades com a sagacidade de um caipira, e a visão de futuro dos verdadeiros estadistas.
De volta ao Brasil, tornou-se ministro da Cultura e alvo de uma campanha de desmoralização por parte de uma intelectualidade para quem o máximo de cosmopolitismo consistia em citar "crooners in" da noite de Nova York. Ao mencionar a broa como um bem cultural, trataram o professor como a um caipira recém-chegado à capital. Muito mais que isso, era um cidadão do mundo, de volta ao seu país, e com sede extraordinária de Brasil.
Japão e China
O professor foi um dos primeiros intelectuais a disseminar no Brasil as virtudes do modelo empresarial japonês. Foi o primeiro a divulgar as grandes soluções que a China conseguiu para a questão da fome. Agora, seu tema predileto é o da interiorizacão ensino universitário como instrumento de descentralização do desenvolvimento.
O exemplo que utiliza para demonstrar a tese é o interior de São Paulo. De início, havia faculdades disseminadas por todo o Estado, algumas de boa qualidade, outras meras vendedoras de diploma. Com o tempo, ajudaram no desenvolvimento econômico de seus municípios. Quando articuladas de maneira coerente pela Unesp (Universidade Estadual Paulista), aprimoraram gradativamente sua qualidade e hoje são exemplares.
O professor pretende levar este modelo para Minas, amarrado a uma ampla interação com projetos econômicos de interesses das respectivas comunidades. Seu projeto piloto é do aproveitamento do potencial hidríco de Minas para piscicultura e turismo.
Aluizio Pimenta voltou impressionado da China, quando percebeu que a criação de peixes havia resolvido o problema da fome. Mais impressionado ficou quando especialistas chineses lhe informaram que os rios brasileiros abrigam as dez maiores espécies do mundo. "Se tivéssemos um surubi, alimentaríamos o mundo", disse-lhe o técnico.
Como sempre ocorre, o professor levanta bandeiras aparentemente simplistas como a interiorização do ensino–, mas de enormes repercussões práticas. De início, provoca muxoxos em intelectuais que só se impressionam com complexidades inviáveis e desamarradas de modelos. O professor não se importa e vai repetindo sem parar suas lições.
Gradativamente, a idéia vai se impondo. Quando torna-se vitoriosa, o professor nem se preocupa em comemorar.
Como um construtor de país, sua cabeça já está no lance seguinte.

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