São Paulo, terça-feira, 31 de maio de 1994
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As cordas nervosas

ZECA CAMARGO

O Balanescu Quartet ataca suas cordas com um nervosismo capaz de fazer a violinista virtuose Anne-Sophie Mter parecer a freirinha que canta "arrasando" com "Dominique". Com seu último álbum, que acaba de ser lançado, essa característica do quarteto fica mais evidente: "Luminitza" é o primeiro trabalho recente deles com composições originais –e bem nervosas.
Mas essa não é a única marca forte do Balanescu. Interpretando compositores contemporâneos (num repertório que vai de David Byrne a John Lurie), o quarteto consegue tirar o estigma do erudito de todas as peças que escolhem. O prazer de ouvir o quarteto não é diferente daquele trazido por um sucesso da Motown dos anos 60. É pop e é bom.
Por exemplo, em "Luminitza" (inédito no Brasil, como todos seus CDs), todas as faixas vêm com essa sensibilidade –e se algumas são longas para tocar no rádio, outras ficariam bem num "playlist" mais ousado.
Essa fronteira tão clara entre o pop e o erudito foi passada no final de 92, quando o Balanescu gravou algumas músicas clássicas (no outro sentido) da banda alemã Kraftwerk. De repente, seus álbuns eram criticados pela imprensa de rock e nas lojas de disco de Londres os CDs eram exibidos ao lado de bandas pop e alternativas.
Calma, porque não se trata de uma mania do tipo canto gregoriano, nem um fenômeno como a "Terceira Sinfonia" do polonês Górecki. Longe de virar um sucesso de vendas, o Quarteto Balanescu é, por enquanto, um bom exemplo de "crossover".

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