São Paulo, quarta-feira, 1 de junho de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Brizola se diz à esquerda do PT e admite contradições em seu partido

FERNANDO MOLICA
DA SUCURSAL DO RIO

O candidato do PDT à Presidência, Leonel Brizola, 72, disse, em entrevista à Folha, que está à esquerda do PT.
Brizola admitiu contradições no PDT e afirmou que até gosta de ser chamado de caudilho.
A seguir, trechos da entrevista, feita, domingo passado, em vôo entre Salvador e Rio:
Folha – Nos últimos dias o sr. tem falado muito em Deus. O sr. acha que é predestinado para ocupar a Presidência?
Brizola – Quem sou eu para achar que há uma predestinação? Mas há muitas coincidências. Nunca procurei me preparar para ser presidente, mas isto foi se dando naturalmente.
Muitos dizem que há um determinismo, outros que é o insondável ou a vontade de Deus. No fundo, tudo isto é uma coisa só, que podemos expressar como se fora a vontade de Deus enriquecida com as ações do livre-arbítrio humano.
Folha – O sr. costuma dizer que houve uma associação entre setores petistas e militares para esvaziar o trabalhismo. Na sua opinião isto foi consciente por parte do PT?
Brizola – Admito que foi inconsciente por parte deles, mas, a partir de certo ponto, eles gostaram. Tudo foi idéia do Golbery (general Golbery do Couto e Silva, um dos ideólogos do regime militar).
O PT é uma espécie de prolongamento de muitas ONGs (Organizações Não-Governamentais) internacionais, a começar por aquelas ligadas à igreja. A própria teologia da libertação foi uma impostura, funcionou como cimento, como tempero para este cozido que se chama PT.
Folha – É verdade que, em 89, o sr. chegou a considerar Lula seu sucessor político?
Brizola – Cheguei a admitir em fortalecer a liderança dele. Mas depois vi que ali não estava uma liderança austera. Achei-o impreciso, indefinido, instável, despreparado. Passamos a ver nele graves problemas de caráter.
Folha – É correto dizer que o PDT tem procurado se colocar à esquerda do PT?
Brizola – Não há dúvida que estamos à esquerda deles. Não dá para entender como é que correntes como o PSB e o PC do B admitem posições do PT em matéria de capital estrangeiro e privatizações.
Folha – Mas o governo do Espírito Santo, do PDT, vendeu sua parte em uma estatal; o candidato ao governo de São Paulo, Francisco Rossi, é privatista e disse achar os Cieps caros; João Durval, coligado na Bahia, chegou ao governo em 82 com apoio de Antônio Carlos Magalhães...
Brizola – Contradições podem ocorrer. Mas somos um partido democrático. Se o Quércia (Orestes Quércia, candidato do PMDB à Presidência) ou Maluf (Paulo Maluf, prefeito de São Paulo) vierem me apoiar estarão dado um passo positivo.
Minha candidatura tem uma coerência e um peso histórico que áreas conservadoras ou liberais não vão modificar.
Folha – O Fernando Henrique Cardoso, do PSDB, também diz que manterá o comando.
Brizola – Mas ele nunca mostrou que comanda. Eu sim. Sem constranger, comando homens livres. O caudilho aqui...
Folha – Como o sr. se sente ao ser chamado de caudilho?
Brizola – Na Espanha a palavra quer dizer líder, no Brasil tem uma conotação depreciativa. Mas quando me chamam de caudilho até gosto. Faço questão de assumir minhas responsabilidades.

Texto Anterior: Quércia admite desistir e apoiar candidatura Brizola
Próximo Texto: Fracassa caravana de Lula em Brasília
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.