São Paulo, quarta-feira, 1 de junho de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Monsieur Crocodilo

THALES DE MENEZES

Roland Garros é o paraíso da tietagem. Trata-se do torneio do Grand Slam que permite mais proximidade entre tenistas e fãs.
Ninguém consegue andar tranquilo. Jim Courier dá pelos menos uns 40 autógrafos numa caminhada de 15 metros. E nem precisa ser tão famoso. Basta ter o crachá de jogador para ser abordado.
Enquanto tenistas que ainda nem saíram da puberdade sofrem esse assédio todo, um senhor de 89 anos caminha tranquilamente pelas alamedas de Roland Garros. Ninguém se aproxima.
Certo, os óculos escuros e a boina ajudam a esconder seu rosto. Mas a maioria da molecada não iria reconhecer esse homem, mesmo que muitos desses garotos vistam camisetas com a sua marca.
René Lacoste é um monumento vivo do esporte francês. Ele e Jean Borotra, 95, são os dois sobreviventes dos Quatro Mosqueteiros, a equipe que venceu a Davis de 1927, quebrando a hegemonia dos EUA.
Lacoste, Borotra, Henri Cochet e Jacques Brugnon dominaram o tênis na romântica década de 20. Com sete títulos em torneios do Grand Slam, Lacoste poderia ser apenas mais um dos esquecidos campeões do passado. Mas não é.
Filho de um construtor de carros, Lacoste acredita ter sido melhor como inventor do que como tenista. Tem mais de 30 patentes de produtos reconhecidas, de espremedores de frutas a cadeiras de rodas motorizadas.
Talvez sua invenção de maior sucesso seja a marca Lacoste, simbolizada pelo crocodilo. Desde 1933, a marca ajuda Lacoste a construir sua fortuna pessoal, hoje estimada em US$ 160 milhões.
Muitos dizem que o "crocodilo" veio porque Lacoste usava sapatos de couro do animal. Ele dá outra versão, alegando que um jornalista comparou sua postura na quadra, sempre à espera do erro do adversário, à concentração do crocodilo diante da presa.
Nenhuma das versões é confiável. Afinal, esse é o campeão que adora invenções. Dentre elas, Lacoste tem mais carinho pelos modelos de raquetes que criou.
O homem é o pai da Wilson T-2000, raquete de alumínio com a cabeça redonda. Tornou-se o modelo mais vendido no mundo durante os anos 70, popularizada por Jimmy Connors.
Esse homem merece ser lembrado. Pelos títulos, pelas roupas, pelas raquetes, pela modéstia. Por tudo.

Texto Anterior: Knicks pegam os Pacers em casa
Próximo Texto: FIA se defende com carta de Briatore
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.