São Paulo, quarta-feira, 1 de junho de 1994 |
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Duetos unem o country e o rhythm & blues
CARLOS CALADO
O soul de Al Green tem algo em comum com o new country de Lyle Lovett? O roqueiro Little Richard frequenta a mesma praia da caipira Tanya Tucker? O bluesman B.B. King e o sertanejo George Jones bebem no mesmo copo? Segundo o projeto "Rhythm Country & Blues", a resposta para todas essas perguntas é afirmativa. As provas estão registradas em sons e imagens, nas versões CD, vídeo cassete e videolaser. A idéia foi do produtor norte-americano Al Teller, diretor da gravadora MCA. "Sempre amei o country e o rhythm & blues; eles são versões diversas da música da alma americana", afirma, no texto do encarte que acompanha o CD. Os cerca de 80 minutos do vídeo –que antes de chegar ao mercado foi exibido na rede pública de TV norte-americana PBS– estão recheados de depoimentos parecidos com esse. Mais convincentes ainda, aliás, porque são dos próprios artistas envolvidos. Proximidade "Hoje, olhamos uns para os outros e gostamos mais do que eles fazem, porque estamos muito mais perto", declara o cantor George Jones, que divide com B.B. King (e sua inseparável guitarra Lucille) a recriação de "Patches" (de Dunbar e Johnson). "O country é uma das minhas músicas favoritas. Sou da Geórgia e sempre adorei o country", confessa o tresloucado Little Richard, pioneiro do rock & roll, que tem Tanya Tucker a seu lado, na frenética versão de "Something Else" (de Cochran e Sheeley). Em vez de se repetirem, o CD e o vídeo se completam. O disco exibe na íntegra os 11 encontros musicais, registrados em diversos estúdios americanos. O vídeo inclui trechos dessas gravações, mas prefere alterná-los a divertidas cenas de bastidores, depoimentos rápidos desses e outros músicos, além de fragmentos de filmes que registram a história do country e do blues. Há imagens preciosas, como as antigas performances da dupla Sam & Dave (da qual Sam Moore, que canta "Rainy Night in Georgia" com Conway Twitty, fazia parte), do bluesman Joe Turner, ou mesmo dos ainda jovens B.B. King e Little Richard. O produtor das gravações, Don Was, acertou ao manter uma banda básica para acompanhar os convidados. Entre outros músicos aparecem James Hutchinson (baixo), Kenny Aronoff (bateria), Robby Turner (pedal "steel") e Randy Jacobs (guitarra). Uma das faixas que melhor revela a confluência dessas duas correntes básicas da música popular norte-americana é o duo de Al Green e Lyle Lovett. Se o teclado "bluesy" de Billy Preston e os sopros dos Memphis Horns puxam o arranjo para o campo do soul, os glissandos do pedal "steel" de Robby Turner imprimem a sonoridade típica da country music. "Boa canção! Ela é mesmo country?", pergunta o reverendo Green, com um toque de ingenuidade, logo após a sessão de gravação, que termina em clima de festa, no estúdio. Há também surpresas menos agradáveis, como o lacrimoso duo dos cantores Aaron Neville (da banda Neville Brothers) e Trisha Yearwood. O vibrato de Aaron soa afetado e caipira demais. Tese confirmada Com mais ou menos elementos, o conjunto das 11 faixas incluídas no CD acaba confirmando a tese inicial do projeto. Pelo menos em termos de repertório, o rhythm & blues e o country realmente se aproximam bastante. Na verdade, a grande diferença está mesmo no modo de interpretar –o que também pode ser constatado em várias dessas mesmas gravações. Um exemplo marcante: com seu "approach" emocional e fervoroso de sempre, o "soul" de Al Green simplesmente engole a retraída interpretação country de Lyle Lovett. Guardando as devidas diferenças, é mais ou menos o que aconteceria num dueto entre o sambista Jamelão e o neo-sertanejo Chitãozinho. Disco: Rhythm Country & Blues Artistas: Al Green, Lyle Lovett, Little Richard, B.B. King, Gladys Knight, Chet Atkins, Aaron Neville, Natalie Cole, Allen Toussaint, Patti Labelle, Sam Moore, Travis Tritt e outros Produção: Don Was Lançamento: MCA Vídeo: Rhythm Country & Blues Direção: Hart Perry Lançamento: MCA Importação: Music Mail Box (tel. 011/530-4999) Quanto: US$ 16,97 (o CD), US$ 19,95 (o vídeo), US$ 29,96 (o videolaser); não incluídas taxas postais e de frete Texto Anterior: Sombra de Kantor emperra seu grupo Próximo Texto: Caixa lembra Ben E. King Índice |
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