São Paulo, quarta-feira, 1 de junho de 1994
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Veteranos da FEB voltam a ver a Itália

RICARDO BONALUME NETO
ESPECIAL PARA A FOLHA, DE ROMA

Um grupo de veteranos de guerra brasileiros iniciou no último fim-de-semana uma peregrinação aos locais em que combateram 50 anos atrás.
Os ex-combatentes da FEB (Força Expedicionária Brasileira) vão rever locais como Monte Castelo, Montese e Fornovo, no noroeste da Itália.
Alguns dos veteranos não tinham revisto a Itália desde que saíram deste país, em 1945. Outros fizeram amigos na região em que combateram e, por serem mais abastados, puderam visitá-los outras vezes desde a guerra.
Algumas coisas não mudaram para eles. Apesar de cansados da viagem, dois veteranos, Vicente Gratagliano e Ferdinando Palermo, visitaram logo o Vaticano, onde estiveram quando de licença da frente de combate.
A não ser pelos turistas, que substituíram nas ruas de Roma os onipresentes soldados de 1944, a Basílica de São Pedro pouco tinha de diferente para eles. Durante a guerra, os dois foram recebidos pelo papa Pio 12. Ontem, puderam ver seu túmulo na basílica.
Outro veterano, Ruy Fonseca, voltou à Fontana de Trevi, a fonte da qual se diz que jogar uma moeda faz retornar a Roma. Fonseca, major da reserva, voltou e desta vez a fonte estava bem mais limpa.
Segundo o coronel Sergio Gomes Pereira, presidente da Associação Nacional dos Veteranos da FEB, os ex-combatentes vão se reunir em Montese com colegas da 10ª Divisão de Montanha americana, a unidade que acompanhou o avanço dos brasileiros em 1945.
Além de encontrar soldados de outros países que lutaram na Itália, os cerca de 40 veteranos brasileiros vão participar das cerimônias celebrando a libertação da Itália.
A FEB foi integrada ao 4º Corpo do 5º Exército dos EUA, no noroeste da Itália. Havia 23 divisões aliadas no país (com cerca de 15 mil soldados cada).
Reuniram-se agora alguns veteranos que não se viam desde a guerra –e outros que se tornaram amigos inseparáveis.
Todos lembram as histórias com humor, brincando todo o tempo. Para cada um deles, seu regimento foi o melhor. São homens do 1º Regimento de Infantaria, do Rio, do 6º de Infantaria, de Caçapava (SP), ou do 11º de Infantaria, de São João Del Rey (MG).
Entre os veteranos não há a formalidade que costuma haver nos Exércitos, a distinção rígida entre oficiais e praças. O soldado Vicente Gratagliano, depois da guerra feirante em São Paulo, ajudou a salvar seu pelotão ao disparar sua metralhadora contra uma patrulha alemã quando estava de sentinela.
Na mesma ocasião, Eurípides Simões de Paula, depois professor titular de história na USP, salvou o mesmo pelotão bombardeando os alemães com seus morteiros.
O comandante do pelotão, o então tenente José Gonçalves, resume: "Tenho muito orgulho do pessoal que combateu comigo".

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