São Paulo, quinta-feira, 2 de junho de 1994 |
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Futebol cresce na nova ordem mundial
MATINAS SUZUKI JR.
Na Europa, o início da última década do segundo milênio foi marcado por um período de longa recessão econômica, de crise nas políticas sociais e de altas taxas de desemprego. Este fatores –terríveis do ponto de vista humano – favoreceram a revitalização do interesse por um tipo de esporte barato e fácil de ser entendido e praticado como é o caso do futebol. O futebol, por ser um jogo apreciado principalmente pelas populações de baixa renda, está diretamente ligado as estas oscilações da vida econômica e social. A arquibancada como termômetro do social. Além disso, a fragmentação geopolítica e étnica que se seguiu ao fim da URSS e à queda do muro de Berlim fez crescer, em muitas comunidades, o interesse pela seleção nacional daquele lugar. Veja-se, por exemplo, o grande êxito que encontraram nos melhores campeonatos da Europa ocidental os jogadores da ex-república da Iugoslávia, como os sérvios e os os croatas, entre outros. Esta nova ordem mundial aumentou o espectro de países no mundo e, consequentemente, o número de times e seleções nacionais, enriquecendo ainda mais o panorama futebolístico. Com a sua seleção –com cores próprias, uniformes, hinos– cada etnia, cada renovado país, encontra no futebol uma maneira de reforçar a sua identidade nacional, a sua afirmação. Em tempos de fragmetação ideológica e de crise de referências, o futebol –que quase não muda– apresenta-se como uma estabilização, como um precioso valor permanente para a sociedade. Em período de recessão, desemprego e reforço das identidades nacionais, no continente europeu, costumam renascer os sentimentos fascistas e racistas. Esses sentimentos encontram plena condição de vigência na violência das torcidas. Basta ver como se confundem as ideologias e atitudes dos neo-nazistas, dos skin-heads com as dos hooligans. Associada a uma espécie de culto generalizado da violência que existe na sociedade atual, o futebol tem sido parte importante na fabricação de oportunidades para estes comportamentos regressivos. Por outro lado, é importante notar que o futebol tem contribuido para ajudar as sociedades do primeiro mundo a terem uma visão mais positiva dos fenômenos multiraciais que acontecem hoje. Junto com os fluxos imigratórios dos anos 80, os jogadores de futebol, na condição de pés-de-obra qualificados, contribuiram para se formar uma imagem mais positiva dos estrangeiros pobres. Ao lado de fenômenos culturais multiraciais, como a explosão da world music, por exemplo, os ídolos negros ou mulatos do futebol passaram a compor um quadro mais amplo do fenômemo multiracial. A Copa chega este ano aos EUA na época do multiculturalismo e do politicamente correto. A cultura mais narcisista e mais auto-suficiente começa a perceber –e até exageradamente– o Outro. Amplia-se internacionalmente o mercado para o futebol. O "soccer" começa a ser importado pela América e esta Copa do Mundo é um passinho a mais. Europeus (e seus descendentes) e africanos (e seus descendentes) tentam conquistar novamente a América, na repetição de um processo histórico, o dos descobrimentos e da colonozação. Basta um pequeno êxito entre os americanos, mais a anexação definitiva do Japão e um aprimoramento dos africanos para o futebol virar o século como o mais importante espetáculo da terra. Texto Anterior: Federação interdita estádio do Morumbi; Edmundo pode ir para o Sevilla; Igreja não quer futebol aos domingos; Goleiro da seleção não pode sair do país; Técnico da seleção é acusado de racismo Próximo Texto: Abatido, Muller diz que está 'desgastado e cheio' Índice |
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