São Paulo, quinta-feira, 2 de junho de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Frigidez anula adaptação do conto "Lucia MacCartney"

JGC
DA REPORTAGEM LOCAL

"Lucia MacCartney", o especial da última "Terça Nobre" da Globo, foi tão anódino que nem chegou a ser propriamente ruim.
Ao adaptar o conto homônimo de Rubem Fonseca, em que uma prostituta se apaixona por um cliente, o diretor Roberto Talma atingiu uma espécie de ideal da publicidade televisiva: o espectador fica diante do aparelho e nem se dá conta do que está assistindo. Percebe vagamente que tem um programa ali, entre uma série e outra de comerciais.
Essa proeza –não emocionar, não informar, não divertir– foi conseguida graças a uma estilização drástica da linguagem: cenografia clean, iluminação azul e gelada, marcação teatral.
O distanciamento produzido poderia ser interessante. Ao deixar de contar realisticamente uma história concreta de amor, o especial poderia ter desembocado num comentário crítico sobre as relações afetivas –numa espécie de "fragmentos do discurso amoroso".
Em alguns momentos –sobretudo nas cenas imaginadas pela protagonista (Fernanda Torres)–, é possível notar o embrião de uma atitude paródico-crítica desse tipo. Mas falta radicalidade a essa tendência: os diálogos são insípidos demais até para servir como denotações do lugar-comum.
Soma-se a isso um grave problema de elenco: Taumaturgo Ferreira, o paradigma do jovem carioca, tem de representar, com seus parcos recursos, um empresário paulista beirando os 40.
Teleteatro sem drama, esse "Brasil Especial" teve pouco de Brasil e menos ainda de especial. (JGC)

Texto Anterior: Bomba! Sargentelli contrata o mulato FHC
Próximo Texto: Nova dança brasileira sobe ao palco
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.