São Paulo, sexta-feira, 3 de junho de 1994
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Luta contra inflação continua em 95

CARLOS ALBERTO SARDENBERG
DA REPORTAGEM LOCAL

Consolida-se nos meios econômicos a opinião de que a introdução do real não será o golpe final contra a inflação. Deve ser uma paulada forte, mas a batalha decisiva fica para o próximo governo.
A moldura política, como tem dito o ex-ministro Mailson da Nóbrega, coloca restrições a um pacote completo. Se fosse a aposta final contra a inflação, a introdução do real deveria ser acompanhada das seguintes medidas:
Plena conversibilidade do real, de tal modo que qualquer pessoa pudesse entrar em um banco e abrir conta em dólares.
Extinção da UFIR, o indexador que atualiza os impostos recebidos pelo governo federal.
Regra pela qual o Banco Central fica proibido de emitir mais reais além dos colocados inicialmente. Significaria que o governo, não tendo dinheiro para uma despesa, simplesmente deixaria de fazê-la, qualquer que fosse. Exemplo: a Previdência não conseguir pagar os aposentados.
Regra pela qual o BC fica proibido de dar dinheiro para os bancos estaduais. Deixa que quebrem.
Economistas ouvidos pela Folha consideraram muito perigosa a adoção desse conjumto de medidas. Para José Roberto Mendonça de Barros, não seria ousadia do governo, mas uma tremenda irresponsabilidade.
Cândido Bracher, do Banco BBA Creditanstalt, lembra que em 1981, quando François Mitterand venceu sua primeira eleição na França, muitas pessoas foram apanhadas na fronteira tentando fugir país com quilos de ouro.
"Se isso aconteceu com Mitterand na França, imagine o pânico que pode ocorrer por aqui com uma vitória de Luis Inácio Lula da Silva", comenta Bracher. Se Lula se mantiver com favorito até a véspera da eleição, o Banco Central não teria como impedir a corrida ao dólar.
O ministro Rubens Ricupero já anunciou que não haverá plena conversibilidade do real.
Os economistas ouvidos pela Folha apoiam a restrição e também se opõem à extinção da UFIR.
Claro que isso afeta a credibilidade do programa de estabilização. Mas o problema poderia ser parcialmente resolvido com o congelamento da UFIR durante todo o tempo que o real fosse mantido igual a US$ 1.
E ninguém acredita que será possível tomar medidas drásticas em relação ao setor público. Como observa Mailson da Nóbrega, um governo em fim de mandato, fraco, diante de um Congresso incapaz de decidir, não pode fazer a aposta final.
Pode apenas dar melhores condições para o próximo presidente.

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