São Paulo, sexta-feira, 3 de junho de 1994
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Plano de Sarney foi equivocado, diz FHC

EMANUEL NERI
DA REPORTAGEM LOCAL

Plano de Sarney foi equivocado, diz FHC
Fernando Henrique Cardoso disse ontem que o Plano Cruzado foi uma "experiência equivocada" que não será repetida no Plano Real, de sua autoria.
É a segunda vez em menos de três dias que o candidato a presidente pelo PSDB critica o Cruzado, lançado em fevereiro de 1986, durante o governo de José Sarney. Ele foi um dos beneficiados do Cruzado, na eleição daquele ano.
Mas FHC quer evitar que tais críticas dificultem um eventual apoio de Sarney à sua candidatura. Anteontem, ele telefonou ao ex-presidente tentando amenizar o teor de críticas feitas na véspera por ele.
O candidato tucano voltou a condenar o Cruzado no início da noite de ontem, em seu sítio de Ibiúna (70 km a oeste de São Paulo). FHC fez uma longa comparação entre o Cruzado e o Real para explicar que seu plano dará certo.
"No Cruzado, as reservas (em moeda estrangeira) do Brasil estavam em US$ 4 bilhões. As nossas reservas, há dois meses, estavam em US$ 38 bilhões. Hoje estão mais elevadas", disse.
"No Cruzado, a economia era fechada. Havia barreiras para importações. Agora não há. No Cruzado, o setor oficial fazia as importações. Agora é o setor privado que importa", declarou.
FHC afirmou que, no plano de Sarney, além do crescimento do poder aquisitivo, que ele chama de "efeito riqueza", houve um aumento adicional de salários.
"Por que nós (no Plano Real) insistimos tanto em fazer a conversão dos salários pela média? Não foi porque não se quisesse aumentar. Foi temendo que haja aumento que depois não possa ter contrapartida de oferta", disse.
Outra diferença entre os planos, segundo o candidato, é que o Real será precedido pela maior safra da história do país –75 milhões de toneladas de grãos.
Para ele, outra vantagem do Real sobre o Cruzado é o ajuste fiscal. "O Cruzado não fez ajuste fiscal. Quando o Bresser (Luiz Carlos Bresser Pereira, ex-ministro da Fazenda) falou de ajuste, houve uma gritaria contra".
"É que as teorias da época eram outras. Diziam que bastava aumentar o consumo e o salário que se aumentaria a produção e derrubaria a inflação. Essa teoria não funcionou", declarou.
FHC chegou a comparar o Plano Cruzado ao governo de Alan García (1985-1990), no Peru. "O Alan fez um pouco daquilo que fizemos no Cruzado, que era da teoria do Cruzado: estatizar, fechar a economia, dar aumento de salário, fazer reforma agrária sem ter condições mais racionais".
"Não tem sentido repetir experiências equivocadas. Que não foi uma só. Foram várias experiências", disse. Para FHC, "vai quebrar a cara" quem acreditar que o Plano Real não vai dar certo.

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