São Paulo, sexta-feira, 3 de junho de 1994
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Justiça investiga espancamento de presos com Aids

HELCIO ZOLINI
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE

O Ministério Público abriu inquérito para apurar denúncias de espancamento e tortura que teriam sido praticadas por carcereiros e policiais civis contra cinco presos aidéticos da cadeia pública de Uberlândia (MG).
O fato teria ocorrido no dia 8 de abril passado e foi denunciado pela Fundação Assistencial Lucas Evangelista e pelo deputado Zaire Rezende (PMDB-MG).
Rezende é presidente da Comissão de Defesa do Consumidor, do Meio Ambiente e das Minorias da Câmara Federal.
A presidente da fundação, Jussara Santos Megherian, disse que os presos foram amarrados, algemados e levados para uma sala onde ocorreu o espancamento.
"Eles foram espancados com barras de ferro, porretes e torturados com canivetes. Os outros nove detentos aidéticos também foram ameaçados e poderão sofrer as mesmas torturas a qualquer momento", disse Jussara Megherian.
Segundo ela, a tortura foi para conter os protestos que eles vinham fazendo contra os maus-tratos recebidos na cadeia.
Jussara afirmou os presos aidéticos cortavam o próprio corpo e iam para os muros da cadeia para chamar a atenção para as condições a que eram submetidos lá dentro.
O deputado Zaire Rezende disse que encaminhou na última quarta-feira a denúncia ao Ministério da Justiça e ao secretário de Justiça de Minas, Jairo Magalhães.
A Agência Folha procurou o secretário Magalhães, mas ele não foi localizado ontem.
Mortes
Três presos foram assassinados no último fim-de-semana na cadeia de Uberlândia no ritual conhecido como "ciranda da morte".
A "ciranda da morte" é uma das formas que os detentos encontraram para exigir melhores condições e para chamar a atenção para a superlotação das celas.
José Eurípedes Parra, 37, foi morto por seus colegas de cela, no sábado, com 11 facadas.
No dia seguinte, Cláudio Manoel Alves Amorim, 24, e Marcos Eurípedes Alves da Silva, 24, foram linchados e, segundo a polícia, queimados vivos.
A polícia nega a existência da "ciranda da morte" na cadeia. O delegado que estava de plantão no feriado de ontem, Jair Martins, disse que não sabe de "nada".

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