São Paulo, sexta-feira, 3 de junho de 1994
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Falta de divulgação deixa abrigos vazios

RICARDO FELTRIN
DA REPORTAGEM LOCAL

Apenas um quarto das 1.250 vagas dos três abrigos da prefeitura foram ocupadas por sem-teto no primeiro dia da Operação Inverno.
O objetivo da operação é abrigar pessoas que moram nas ruas da cidade nos próximos quatro meses.
Para a assistente social Sylvia Farina Matos, do abrigo Washington Luís, a pouca procura no primeiro dia é causada pela desinformação e pelo fato de o frio ainda não ter chegado a São Paulo.
"Essas pessoas não lêem jornal ou assistem televisão. Nem sabem que os abrigos existem", diz Sylvia.
A supervisora regional do Butantã, Maria Beatriz Teixeira, concorda com Sylvia.
"A informação entre eles vai acontecer no boca-a-boca."
Anteontem Sylvia e Beatriz tiveram pouco trabalho.
Nenhuma das 200 vagas do albergue de Santo Amaro (zona sul) foi ocupada na noite de anteontem. O abrigo tem 39 quartos e já foi um hospital psiquiátrico.
A sopa e os pães, que seriam distribuídos para os sem-teto, acabaram sendo levados para o único abrigo municipal que teve superlotação, no viaduto Pedroso de Moraes (centro).
Às 22h, no estacionamento de uma loja no avenida do Estado, 42 sem-teto se aglomeravam sob caixas de papelão, pedaços de pano e cobertores velhos.
Nesse horário, a 3 quilômetros do local, apenas 39 das 300 vagas estavam ocupadas no abrigo do Ipiranga (zona sul).
Nenhum dos 15 entrevistados pela Folha sabia da Operação Inverno, realizada pela prefeitura.
O ex-auxiliar de produção em cervejarias Joilson da Silva, 23, casado com um filho, pedia mais informações sobre o abrigo.
"Eles dão comida pra gente nesse lugar? Podemos dormir? Dão cobertor?"
Enquanto isso, o segurança Claudiomiro de Camargo perguntava à reportagem da Folha se não sabia de "algum lugar que tenha emprego".
'Anjos'
A advogada Mônica Fernandes, 25, é uma das voluntárias no abrigo Condessa São Joaquim. Ela é um dos chamados "anjos da guarda" dos sem-teto.
Como Mônica, outras pessoas fazem trabalho semelhante, não apenas durante o inverno, mas o ano todo.
É o caso da Associação Benedito Pacheco, grupo de profissionais liberais e estudantes que se uniram para combater a miséria em São Paulo.
Anteontem, às 21h, liderada pelo pediatra Eduardo Ferraz de Mendonça, 33, a entidade distribuía alimento a um grupo de oito desabrigados, numa praça próxima ao viaduto Pedroso de Moraes.
O trabalho começou há um ano. "Começamos ajudando 40 pessoas por semana. Hoje são cerca de 400."
Contatos para doações de alimentos ou roupas para a entidade podem ser feitos pelo telefone 270-3271. Para o abrigo Condessa São Joaquim, o contato é pelo tel. 279-7699.

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