São Paulo, sexta-feira, 3 de junho de 1994
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"Não tenho falta de vontade, quero trabalhar"

RICARDO FELTRIN
DA REPORTAGEM LOCAL

Ex-segurança e ex-pintor, Francisco dos Santos, diz estar desempregado há oito anos. Anteontem, ele se cadastrou no abrigo Pedroso de Moraes.
Há dois anos, desde que ficou viúvo, Santos, 30, é um dos sem-teto que diariamente procuram um abrigo para não dormir nas ruas de São Paulo.
"Não tenho falta de vontade, quero trabalhar. Sei fazer uma porção de coisas, mas nenhuma firma me aceita", reclama.
Para ele, o motivo é sua saúde precária. Há oito anos, trabalhava como segurança em uma empresa em Santos (72 km a sudeste de São Paulo).
Tentou evitar um assalto. Foi baleado. Levou três tiros.
Um, na barriga, causou a perda de um rim. O outro, no braço, impede movimentos normais do braço direito até hoje.
O terceiro tiro ainda está alojado próximo a sua medula espinhal. A bala não pode ser removida.
Mesmo assim, Santos afirma que não vai desistir.
"Não sou um vadio. Se estou desocupado é por causa das circunstâncias", afirma.
Manoel da Silva, 42, ex-metalúrgico na região do ABCD, também tem opinião semelhante. Enquanto assiste ao Jornal Nacional, no abrigo, Silva fala em política.
"Se o Maluf fosse candidato, votava nele. Esse Esperidião Amin não quero nem saber. Não conheço esse sujeito", diz.
Já o ex-manobrista Edinaldo Vitor dos Santos, 27, afirma que
votaria em Lula, mas diz que está "desanimado com essa história de crise econômica".
"Nenhum desses políticos vai fazer nada pela gente. A não ser acabar de matar."
(RF)

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