São Paulo, sexta-feira, 3 de junho de 1994
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MAM expõe a figuração de artistas brasileiros

CARLOS UCHÔA FAGUNDES JR.
ESPECIAL PARA A FOLHA

"Ainda a Figura" é a coletiva que o Museu da Arte Moderna de São Paulo mostra desde a última terça-feira, com curadoria de sua diretora técnica Maria Alice Milliet e de Rejane Cintrão.
São 29 obras de 15 artistas, a maioria pintores, dos anos 80/90, unidos pela figuração. Embora presentes no circuito há alguns anos, não fazem parte de uma "corrente principal" da produção brasileira. Esta é identificada por Milliet como de dominância conceitual, apresentando-se sob a forma de objetos e instalações.
"Ainda a Figura" registra esta presença mitigada, porém resistente, de vertentes figurativas que não tiveram até hoje a devida atenção por parte da crítica.
A escolha das obras teve como base o acervo do MAM. Por isso, nem sempre é mostrada a fase atual do artista. Por vezes, convivem uma obra antiga e outra recente do mesmo autor.
Dentre as poéticas individuais que aparecem na exposição, emergem três linhas. A primeira, em evidência no circuito internacional, se liga a uma certa perversidade que une elementos como estereótipos sexuais e religiosos, num clima mórbido e o atormentado.
Exemplos na mostra são Dora Longo Bahia, Guilherme Werneck, Marco Paulo Rolla, Hildebrando de Castro e Florian Raiss –o único com esculturas. Hildebrando e Dora reconstróem personas de mitologias pessoais, em que já não cabe qualquer olimpismo, mas lateja o inconforto contemporâneo.
Em uma corrente oposta, navegam Paulo Whitaker, Antônio Sérgio e Celso Orsini. Neles, a figura quase desaparece, ou se converte em grafismo, lavando-se de sua referência real para tornar-se elemento plástico pulsante num campo de cor e matéria pictórica.
Se no primeiro grupo surge com força um discurso ou "mitologia" (constituída na série) que costura a obra, conferindo um sobreolhar à figuração, no terceiro o interesse está na própria figura, mais plácida e direta, singular, com uma fluida trama narrativa.
Ao vincular estreitamente a figuração a um meio tão problematizado quanto a pintura hoje, excluindo fotografia e vídeo, a mostra escolhe um caminho estreito cuja saída parece residir na personalização radical da poética.

Exposição: Ainda a Figura
Onde: MAM (Parque Ibirapuera, tel. 011/549-9688)
Quando: de terça a sexta, das 13h às 19h, sábados e domingos, das 11h às 18h

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