São Paulo, sexta-feira, 3 de junho de 1994
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Clinton não cede a apelo do papa sobre aborto

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

O presidente Bill Clinton resistiu às pressões do papa João Paulo 2º para mudar sua política sobre aborto e controle da natalidade.
O papa quer que os EUA não defendam essas práticas na conferência mundial sobre população em setembro no Cairo, Egito.
Naquele encontro, os EUA vão anunciar a alteração de sua política de 13 anos pela qual o país tem recusado financiamento a entidades internacionais que patrocinem aborto e métodos contraceptivos.
Durante reunião de 40 minutos ontem no Vaticano, o papa tentou convencer Clinton a rever essa decisão. Ao contrário do que fizera em agosto nos EUA, o papa João Paulo desta vez evitou criticar o presidente em público.
Clinton reconheceu que há "genuínas diferenças" entre ele e o papa. Mas tentou realçar pontos de convergência, como "a ênfase no papel central da família".
Há 58 milhões de católicos nos EUA. Segundo pesquisa conduzida no final de abril pelo "The New York Times", mais de 90% deles acham que praticar métodos artificiais de controle da natalidade não ofende sua religião.
A hierarquia da Igreja Católica condena qualquer método contraceptivo não natural. A Conferência Nacional dos Bispos dos EUA enviou ontem carta a Clinton em que reafirma essa posição.
Na carta, os bispos dizem ao presidente que "ao defenderem o aborto, a esterilização e a contracepção, os EUA se tornam agente não da liberdade mas da coerção".
Clinton disse que o papa lhe pediu para "não ser insensível ao valor da vida e para não parecer favorável a políticas que minem a força da família".
O presidente afirmou que ele e o papa fizeram "alguns progressos" na busca de posições comuns sobre esse tema.
"Se ele diz que houve progressos, é claro que eles só podem ocorrer com os EUA se aproximando da posição do papa", disse depois o porta-voz do Vaticano, Joaquim Navarro.
Mas a porta-voz do presidente, Dee Dee Myers, declarou: "Ninguém espera que o presidente mude a opinião do papa, nem vice-versa, não é?"
Segundo Clinton, ele e o papa concordaram em todos os outros pontos da agenda, que incluiu: liberdade religiosa na Ásia, o crescimento do islamismo no mundo e questões sobre a paz mundial.
Apesar das diferenças, Clinton afirmou que o encontro com João Paulo 2º havia sido "uma honra e uma inspiração reverencial".
Após a audiência, a primeira-dama Hillary Clinton e a mãe, Dorothy Rodham, se juntaram aos dois para uma conversa social.
Em seguida, Clinton e Hillary, de mãos dadas, visitaram a Capela Sistina, recém-restaurada. O casal é de religião batista.
O presidente, olhando os afrescos de Michelangelo, pintados entre 1508 e 1512, repetiu várias vezes: "Incrível, inacreditável".

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