São Paulo, sexta-feira, 3 de junho de 1994 |
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Estradas de ferro, caminhos do futuro
JOSÉ SARNEY Minha participação na sucessão presidencial não está condicionada à ferrovia Norte-Sul ou ao programa do leite. Mas acho o extremo da burrice que qualquer candidato à Presidência deixe de incluir em suas metas estes pontos, ligados a dois grandes problemas nacionais: o dos transportes e o da fome e nutrição (eu, presidente, o leite seria minha primeira decisão).Minha adesão será condicionada, isto sim, a um projeto estratégico para o Brasil, cujas linhas e metas básicas possam oferecer a perspectiva de um Brasil inserido no mundo, com uma visão regional e global da economia e um programa de desenvolvimento social que inclua a mudança do nosso modelo de desenvolvimento que, esgotado, deixou como herança uma distribuição de renda injusta, em nível de pessoas, grupos e espaços. Mas não posso deixar de comentar o "febeapá" dessa discussão inacreditável sobre a Norte-Sul, que já dura sete anos. No futuro, quando alguém for ler o que se publicou contra essa obra, vai dar risadas, pela ignorância, falta de visão e preconceito. Quando foi ser construída a primeira estrada de ferro no mundo também existiu uma grande discussão. Não devia ser feita porque o "corpo humano não suportaria uma velocidade de 40 quilômetros"!... Quem olha o mapa do Brasil não precisa meditar para ver a imperiosa necessidade dessa obra, prevista há cem anos! As ferrovias foram o transporte do passado e serão o do futuro. As novas tecnologias as trouxeram de volta. Renascem em todo o mundo, em todos os países elas estão sendo construídas. Os trens de alta velocidade, os novos materiais, as novas técnicas de gestão fizeram que o transporte ferroviário fosse o mais barato, o mais rápido e o mais eficiente de todos. Hoje, a era do transporte intermodal que integra ferrovia, hidrovia, rodovia, cabotagem e avião num todo sistêmico procura retirar todos os resultados possíveis desse conjunto, para obtenção de custos baixos. O Brasil parou no tempo. Seu sistema de transporte fica cada vez mais atrasado e mais bloqueia a produção nacional. Não temos só de construir a Norte-Sul. Temos de construir a Leste-Oeste, que irá de Recife até Porto Velho e daí até Cuiabá, Jales, integrando essas regiões a todo o sistema ferroviário nacional. Isso significa um novo Brasil. Muda o país. Coloca à sua disposição cerca de 75 milhões de novas toneladas de grãos para exportar. Cria 3,6 milhões de empregos. Li, como algo errado, o Orçamento da União contemplar a Norte-Sul com US$ 18 milhões. Isso é o que o país perde num pequeno golpe da Previdência. Essa estrada já está funcionando. Os seus 100 quilômetros já levaram este ano 200 mil toneladas de soja. Custo: US$ 8 por tonelada. No Sul, US$ 24! Por que não publicar que o PT fez um seminário no Nordeste sobre ela e concluiu pela necessidade de sua construção? Esta é uma obra do Brasil, transformadora da estrutura do país. Não comporta qualquer reserva, e bendito o país em que os homens públicos exigem dos candidatos a solução de problemas nacionais, minorar a fome, dando leite às crianças que se alimentam de lixo, e estradas para desenvolver o país. Texto Anterior: As sombras e o pó Índice |
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