São Paulo, sexta-feira, 3 de junho de 1994
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Os novos desafios da imprensa

CARLOS VOGT

A expectativa que cercou um evento há pouco realizado em Campinas –o seminário "Imprensa em Questão", que serviu de gatilho ao lançamento, na Unicamp, do recém-criado Labjor (Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo)– revela o grau de interesse que as pessoas em geral, especialmente os jovens, demonstram em relação às grandes transformações que vêm ocorrendo no plano da mídia e da informação.
Esse interesse parece sinalizar em várias direções.
Uma delas é que, cada vez mais, as pessoas se apercebem de que o fenômeno moderno da mídia impressa ou eletrônica está no fulcro mesmo da revolução tecnológica em curso.
Outra é que há questões de natureza ética, cultural, técnica e de ajuste profissional que precisam ser resolvidas no contexto dessas mudanças.
E, por fim, depreende-se uma insatisfação com os instrumentos de detecção, análise e transferência –aqui incluídas as escolas de preparação ou qualificação de jornalistas– do conhecimento emergente na área.
De fato, faltam mecanismos ágeis capazes de avaliar, sob o ponto de vista brasileiro, o impacto da globalização da informação, a massificação das audiências e o movimento concentracionário da mídia em todo o mundo.
Sabe-se que o jornalismo despontou, desde a Segunda Guerra, como o principal agente mediador entre as sociedades e os grupos de poder, através do efeito avassalador da informação democratizada ao máximo.
Merece um estudo sério o impacto dos satélites de comunicação (da informação sem fronteiras, portanto) sobre a derrocada dos sistemas fechados que, por décadas, mantiveram-se imunes à livre circulação de idéias e da informação em estado puro.
Por outro lado, o espectro de uma imprensa globalizada traz questões éticas da maior importância. Por exemplo: a realidade "virtual" construída e reconstruída nas ilhas de edição e repassada a milhões, por vezes bilhões de pessoas; a interpenetração das culturas decorrente da compactação dos meios e a óbvia influência de umas sobre outras; o choque entre as formas novas e as formas decadentes de comunicação de massa, com grave impacto nos parâmetros de competitividade das empresas e mesmo sobre a economia das sociedades.
Tudo isso traz a necessidade de compreender, assimilar e adaptar as rápidas mudanças tecnológicas (e também as ideológicas) no campo da comunicação, frequentemente permeadas de um hibridismo que põe em cheque a própria função da imprensa neste fim de século.
E, naturalmente, requer a existência de fóruns capazes de identificar problemas, propor soluções e gerar alternativas não só para os profissionais, mas também para as empresas do ramo da informação, organismos governamentais e outras instituições da sociedade civil.
No que concerne especificamente aos profissionais da informação, tudo indica que a imprensa que se delineia no horizonte dos próximos anos (e do próximo século) exigirá deles algo mais que simples conhecimentos de técnica jornalística, mas antes uma cultura universal bem fundamentada que os torne aptos à compreensão dos fenômenos e à contextualização dos fatos.
No Brasil, as empresas de comunicação sabem disso e não por acaso várias de suas associações corporativas formalmente comprometeram-se com o projeto da Unicamp. Essa vinculação é não só natural como também necessária.
O investimento na formação de profissionais, seja qual for o seu campo de atuação, só se justifica se o sistema formador for capaz de interagir e responder às demandas do mercado que vai absorvê-los.
É com essa preocupação que a Unicamp pisa nesse cenário e que, no contexto de sua experiência tecnológica e de sua enorme reserva de intelectuais pensantes, faz surgir, em moldes inovadores, o Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo.

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