São Paulo, sábado, 4 de junho de 1994
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Opiniões de Bisol sobre violência já dividem PT

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA E DA REPORTAGEM LOCAL

As declarações do senador José Paulo Bisol (PSB-RS) sobre a violência repercutiram mal dentro do PT. Até agora, só o candidato do partido à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva, saiu em defesa de seu vice.
No dia 1º, em entrevista à Folha, o senador disse que "se um Estado massacra um povo, o deixa com fome, o direito consegra como direito da coletividade o direito à revolução".
Na manhã daquele dia, em um minicomício em Santa Maria (distante 37 km de Brasília), o vice de Lula já havia dito que "violência justifica violência".
Estupro
Em entrevista publicada ontem em um jornal de Brasília, voltou ao tema. Disse, desta vez, que "essas mães (que têm as filhas estupradas) têm o direito de dar um tiro no estuprador".
"Ele está inviabilizado como ministro da Justiça", disse ontem o líder do PT na Câmara, deputado José Fortunati (RS). "Referendar linchamentos é um absurdo".
Fortunati se refere a uma declaração de Bisol, prestada em maio à Folha, quando anunciou sua intenção de se tornar ministro da Justiça caso Lula venha a ser eleito presidente da República.
Segundo Fortunati, se a tese de Bisol fosse levada à prática, o país "ia virar uma terra sem lei, voltando aos tempos do bangue-bangue".
Já a deputada Sandra Starling (PT-MG), que participa de uma campanha contra a violência em Belo Horizonte, disse esperar que Bisol "faça uma autocrítica".
Para Starling, defender a violência contra a violência "é o mesmo que uma feminista querer combater o machismo cortando pênis".
Olho por olho
O caminho da esquerda democrática é apresentar soluções. Combater estupradores com a reforma das leis, por exemplo", disse José Genoíno (SP).
"O `olho por olho, dente por dente' nunca solucionou os problemas da humanidade", disse o deputado.
O deputado Paulo Delgado (PT-MG) também lembrou da lei do Talião (fazer o criminoso sofrer o mesmo mal por ele praticado) para criticar as declarações do candidato a vice de seu partido.
"Nas condições brasileiras, se for `olho por olho', todo mundo vai ficar cego", disse Delgado.
Lula
Lula, no entanto, parece não estar assustado com as declarações de Bisol e as reforça.
O petista disse anteontem à noite à Folha que "o que Bisol disse é que os Códigos de Processo Civil e Penal asseguram que as pessoas podem reagir à violência".
O candidato do PT disse ainda que "as pessoas não querem os fatos, mas as versões", achando que as afirmações de seu vice foram distorcidas.
O petista afirmou ainda que pediu a Bisol para escrever um artigo para a Folha explicando as suas posições sobre o assunto.
"Ele não prega a violência e tem as mesmas posições que eu", concluiu.

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