São Paulo, domingo, 5 de junho de 1994
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PT e usineiros se unem em torno de Arraes

XICO SÁ
ENVIADO ESPECIAL A RECIFE

O candidato do PSB ao governo de Pernambuco, Miguel Arraes, 77, uniu o PT aos usineiros e donos de engenhos de cana-de-açúcar –considerados os mais conservadores do país.
Os petistas, que condenam a aliança do PSDB com o PFL, mantêm boa convivência com os novos aliados pernambucanos.
Essa arrumação, difícil de acontecer em outros Estados, é um produto do estilo Arraes. Ele reúne, ao redor do "mito" que construiu, os mais diferentes seguidores.
O banqueiro e usineiro Armando Monteiro Filho e o deputado estadual João Paulo Lima e Silva (PT) são exemplos disso.
Os dois iniciaram, recentemente, um relacionamento considerado impossível em Recife há seis meses atrás. Graças a Arraes, o deputado, antes tido como "radical", hoje se considera "um amigo" de Monteiro Filho.
O banqueiro é candidato ao Senado, pelo PDT, em coligação que reúne o PSB, PT, PPS, PMN, PV, PC do B e PCB.
"O fundamental é reerguer o Estado e nossa aliança está dentro desse princípio", diz Lima e Silva.
Os adversários têm outra justificativa para o ecumenismo em torno do candidato do PSB: dizem que Arraes atrai os antiquados.
Nessa categoria estariam aqueles que defendem velhas idéias nacionalistas –como a manutenção dos monopólios estatais da Petrobrás e Telebrás, por exemplo.
"Sumiço"
Com poucas palavras e raríssimas aparições públicas, o candidato do PSB administra o seu favoritismo na campanha que pode levá-lo, pela terceira vez, ao governo do Estado.
O "sumiço" do candidato do PSB chega ao ponto de deixar atônito o seu principal adversário, o deputado federal e ex-ministro da Fazenda Gustavo Krause (PFL).
O ex-ministro tem dificuldades de estabelecer um confronto mínimo na campanha, o que os seus aliados consideram importante para firmar a candidatura.
Quanto mais Krause faz provocações, na tentativa de obter, um dia, uma resposta, mais Arraes desaparece, ignorando qualquer possibilidade de discussão.
"Ele não sai da zona de sombra", diz Krause. "Parece que disputa a eleição em outro plano, como se não fosse de carne e osso."
Arraes não pronuncia sequer os nomes dos seus adversários durante uma campanha.
Para se referir aos outros candidatos, ele recorre a uma expressão que inventou ainda nos anos 60: "As forças que nos combatem."
Sobre a cobrança de Krause, que insiste no debate, Arraes apenas ironiza. "Daqui por diante eu vou fazer tudo que ele está querendo", disse à Folha, numa das suas raras aparições, na quarta-feira.
Arraes alega que só precisa falar e debater com os eleitores. Mas até a semana passada, havia realizado apenas quatro viagens pelo interior do Estado, onde costuma provocar cenas explícitas de fanatismo.
No povoado de Bem-te-vi, por exemplo, no município de Bonito, muitas casas mantêm o seu retrato ao lado da imagem do Padre Cícero –um santo para os nordestinos.
O candidato do PSB rejeita a condição de "mito". Segundo Arraes, isso é invenção dos adversários. Não foi feita nenhuma pesquisa de intenção de votos depois que foram definidos, na semana passada, os candidatos à sucessão de Joaquim Francisco (PFL).
Em pesquisas anteriores, Arraes sempre se manteve acima do índice de 40% de intenção de votos.
Além de Krause, da coligação PFL, PSDB e PP, concorrem ainda Cid Sampaio (PMDB, PL, PTB, PSC, PTR) e Joaquim Magalhães (PSTU).

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