São Paulo, domingo, 5 de junho de 1994
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Arquivo guarda voz de sequestradores

JOSÉ MASCHIO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM LONDRINA

Um banco de vozes ajuda a polícia do Paraná a identificar sequestradores. A polícia tem armazenadas 130 vozes de sequestradores gravadas durante negociações com as famílias das vítimas.
O banco começou a ser montado em 1989 pelo grupo Tigre (Tática Integrada de Grupo e Repressão Especial), força anti-sequestro da polícia do Paraná.
Segundo a delegada Leila Bertolini, 38, coordenadora geral do grupo Tigre, o banco só adquiriu capacidade técnica para operar em janeiro deste ano, com a aquisição de equipamentos.
Leila Bertolini disse que as vozes são armazenadas em disquetes de computador. Em caso de sequestro, a polícia grava as negociações e envia a fita ao banco de vozes para decodificação.
O objetivo é buscar vozes já gravadas que se assemelhem à do negociador da quadrilha.
O computador identifica as vozes pelo timbre, comprimento do som e vibração das cordas vocais.
"Mesmo que o negociador seja bom em imitações ou mudanças de fala, a vibração de suas cordas vocais será a mesma. É como uma impressão digital, é unica", afirma Bertolini.
Leila Bertolini disse que outra vantagem do banco de vozes é que, ao identificar o negociador, a polícia pode traçar um perfil do modo de agir da quadrilha.
Além das vozes gravadas, o banco traz informações sobre o "modus operandi" do sequestrador identificado, a quadrilha à qual pertence e suas condenações anteriores.
Segundo Bertolini, a polícia do Paraná recebe gravações das delegacias anti-sequestro dos Estados de São Paulo, Goiás, Alagoas, Ceará, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
Ela disse lamentar que o Estado onde mais ocorrem sequestros no país, o Rio de Janeiro, nunca tenha enviado fitas com gravações de sequestradores.
"Lá, deve ter mais de mil vozes gravadas, mas, apesar de muitos ofícios pedindo fitas, ainda não recebemos nada", afirma.
O sonho da delegada Bertolini é organizar uma agência nacional de vozes.
Pelo sistema idealizado por ela, cada delegacia anti-sequestro do país teria uma senha que daria acesso a uma central nacional, onde estariam armazenadas vozes de sequestradores.
A polícia do Paraná descobriu por meio do banco de vozes quadrilhas de sequestradores que agem em vários Estados.
A voz do sequestrador Heitor Celles foi identificada em quatro sequestros em três Estados. Ele foi negociador de um sequestro no Paraná, dois em Santa Catarina e um em Goiás.
Depois de participar de sequestros "bem-sucedidos" no Paraná, Santa Catarina e Goiás, a quadrilha de Celles voltou a operar em Santa Catarina.
Por meio do banco de vozes, a polícia catarinense obteve uma descrição do modo de agir da quadrilha e acabou prendendo os sequestradores.
"Por ironia", segundo Leila Bertolini, o único que não foi preso foi Heitor Celles.

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