São Paulo, domingo, 5 de junho de 1994
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Consultor elege o golfinho como 'modelo'

ANA ASTIZ
EDITORA DE EMPREGOS

É impossível prosperar nesta era de mutação constante sem romper comportamentos "cristalizados", afirma Dudley Lynch, presidente da consultoria norte-americana Brain Technologies Corporation.
Ele usa o golfinho, o tubarão e a carpa para explicar tipos de comportamento. A figura do golfinho simboliza para ele o rompimento com modelos vigentes –necessário para "prosperar no caos".
A expressão está na capa de seu livro "A Estratégia do Golfinho" (Cultrix/Amana, 269 págs.), lançado recentemente no Brasil. "Gosto de dizer que há um golfinho por perto quando há progresso acontecendo –embora ele não seja esperado", diz Lynch.
Isso ocorre porque estão profundamente enraizados nas pessoas comportamentos limitadores, que o consultor identifica com o tubarão e com a carpa.
Basicamente, pode-se dizer que a conquista a qualquer preço é o que move o tubarão. A carpa dribla responsabilidades e assume o papel de vítima. O golfinho é conhecido por sua inteligência.
Resultado de estudos sobre o funcionamento do cérebro, o livro descreve esses três modelos. Desenhos, gráficos e exercícios ajudam o leitor a se identificar e a entender como operar sua própria mudança. Um dos instrumentos para isso é o "Brain Map" (mapeamento cerebral).
O questionário está disponível na Simon Franco Recursos Humanos, representante da Brain Technologies no Brasil. A idéia é ajudar a "compreender como seu cérebro cria o seu mundo pessoal e profissional".

Folha - O sr. poderia mencionar personagens que foram golfinhos na história?
Dudley Lynch - Nenhuma das estruturas de pensamento que associo ao golfinho pode existir dissociada de tecnologia. Leonardo da Vinci (artista e inventor italiano, 1452-1519) criou um helicóptero. Mas não podia fabricá-lo.
Um pensamento de golfinho só pode existir quando existe alta tecnologia para dar suporte ao desenvolvimento desse tipo de mente.
Folha - Uma pessoa muito inteligente não é necessariamente um golfinho?
Lynch - O modelo do golfinho é algo diferente. Está associado à capacidade de acomodar graus variados de complexidade. Por isso é necessário ter disponibilidade de tecnologia de comunicação.
Folha - Como identificá-los?
Lynch - É difícil, devido às próprias características do golfinho. Não são pessoas que se fazem notar muito. Seu poder vem justamente do fato de serem muito eficientes atrás das câmeras. Não precisam de reconhecimento.
Folha - A que se refere o progresso que ocorre quando há pessoas do tipo golfinho?
Lynch - O progresso material é o tipo que o tubarão gosta. O golfinho gosta dele mas não sente uma atração compulsiva.
Para o golfinho o progresso seria dar alguma contribuição que aumentasse a qualidade de vida, das necessidades básicas das pessoas, do meio ambiente.
Folha - Como isso se revela no ambiente de trabalho?
Lynch - Em uma empresa onde não trabalha nenhum golfinho provavelmente existirá um ambiente cheio de drama e conflito. O indivíduo golfinho assumiria o papel de coordenar e fortalecer as relações entre as pessoas.
Golfinhos têm a capacidade de montar equipes com pessoas que normalmente conflitariam. Montam operações de negócios coordenando pessoas de idéias, de finanças, de execução.
Folha - Como se desenvolvem os golfinhos?
Lynch - No século 20 atingimos um ponto em que a tecnologia permite gerar excedentes e abundância. Só assim pode emergir uma estrutura de pensamento de golfinho. Quando há excedentes de recursos, de idéias e de liberdade.
Isso não vai acontecer em uma favela, por exemplo, onde a preocupação maior é com a sobrevivência. Também não acontece em um regime totalitário. São condições que também limitam o tipo de organizações onde esse tipo de pensamento pode florescer.
Suas características são: ser capaz de criar e acomodar mudanças, ser um gerador de idéias, ter a habilidade de evitar o medo diante da incerteza. A incerteza detona comportamentos compulsivos da carpa e do tubarão. Para o golfinho, a incerteza e a surpresa são excitantes.
Folha - Qual a relação entre as estratégias do golfinho e os movimentos da Qualidade Total?
Lynch - Vejo a Qualidade Total (QT) como o início para a emergência de sistemas do tipo golfinho. A palavra "total", no entanto, anuncia que não se trata de um movimento de golfinhos. A vida e o mundo são complicados demais para usarmos essa palavra.
Há uma gama de respostas corretas. Um enfoque é, em dada circunstância, a resposta correta. Mas ela só funciona naquele ambiente.
O movimento da QT diz que medindo a qualidade estatisticamente e extraindo todos os fatores antiqualidade aparece um grau de qualidade superior.
Em certa medida isso é correto. Mas se toda a ênfase está em eliminar o erro até sua centésima fração, existe o risco de estar ignorando todos os outros aspectos necessários para criar um programa de melhoria duradouro –inclusive no que diz respeito aos recursos humanos da empresa.
Folha - Qual a atuação da Brain Technologies?
Lynch -Criamos literatura e enviamos material para nossos clientes, principalmente nos Estados Unidos. Estamos empenhados em ampliar para outros países.
Simon Franco é representante exclusivo de nossos modelos no Brasil. Também temos acordos na Alemanha, Países Baixos, Austrália, Filipinas, Taiwan, África do Sul, Québec (parte francesa do Canadá) e México.
Folha - O que é o "Brain Map"?
Lynch - Gosto de associar o mapa cerebral a um mapa rodoviário. É uma forma de olhar como as pessoas processam informação.
Pode ser utilizado como instrumento de planejamento. Por exemplo: uma pessoa não está obtendo resultados esperados no trabalho.
O mapa a ajuda a observar onde ela está –operando mais no lado direito do cérebro, por exemplo. Em uma organização com demandas e sistemas muito rígidos, não trabalhará bem.
Pode optar por mudar de direção, mudar a organização, ou não fazer nada e sofrer. Mas pelo menos tem um mapa que lhe permite entender.
O mapa também pode ser usado como instrumento de coordenação, de motivação, negociação, marketing, vendas, seleção de pessoas.

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