São Paulo, domingo, 5 de junho de 1994
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Acertando as idéias com a nossa seleção

MATINAS SUZUKI JR.
EDITOR-EXECUTIVO

Meus amigos, meus inimigos de tantos momentos, a fase final do Mundial de futebol de 1994 começa agora para o Brasil.
Não que o jogo preparativo de hoje contra o Canadá possa valer alguma coisa a mais do que um treino em roupa de gala. Não. Mas é que hoje começa a ser consolidado o time da estréia no dia 20.
Está mais do que na hora de se fazer aqui um acerto não de contas, mas de idéias com a seleção. Vamos lá.
Sobre Carlos Alberto Parreira:
A) Não há dúvida de que Parreira é um avanço como técnico no Brasil. Ele é bem formado, informado, estudioso do futebol. Procura fazer uma gestão moderna e se cercar de preparadores competentes.
B) Também não há dúvida de que muito do que ele fala são conceitos largamente empregados no futebol mundial com êxito. Parreira procura adotar o pragmatismo, o futebol de resultados.
C) Ele está certo quando diz que a tradição do Brasil é jogar com quatro zagueiros em linha. Ele está certo quando diz que um time hoje dever marcar com pelo menos oito. E atacar com oito.
D) Ele tem razão em parte quanto aos dois volantes. Aceitas as suas premissas, ele tem a razão quase integral.
E) Parreira gosta de dizer que os times têm hoje que jogar compactados. Nenhuma escola de futebol contemporânea nega esta teoria.
F) Ele montou um time competitivo. Pode não ganhar a Copa. Também pode ganhar a Copa. Mas ninguém pode negar que o time tem consistência para disputar o torneio.
G) Parreira conseguiu um quase milagre em termos de relações públicas: os dois volantes estão aceitos pela população e seu time bate em grande parte com os times escolhidos em pesquisas.
H) No final, levou um time mais ofensivo do que ele mesmo pregava. Os dois volantes da reserva atacam mais e existem seis jogadores com características de atacantes finalizadores.
I) O técnico da seleção brasileira, até onde posso ver, sempre procurou manter um relacionamento profissional com a imprensa.
Sobre as minhas diferenças com ele:
A) Acho que o Brasil dispõe hoje de jogadores para, além de exercerem funções táticas, proporcionarem espetáculo; aliás, é só por esta razão que todo mundo gosta de ver o Brasil jogar.
B) Optar por um esquema mais ofensivo não significa necessariamente abandonar a defesa. A Itália, amante do contra-ataque, está aí tentando um esquema com três atacantes. A Argentina também.
C) A Colômbia esbanja um futebol bonito, aberto, inventivo, ofensivo, alegre. Está roubando o nosso espaço. Será que vão longe? Não sei. Mas até agora, o sonho valeu a pena. E muito.
D) Há atacantes com talento de sobra no Brasil. O desafio do técnico era descobrir a maneira que eles pudessem jogar juntos. Parreira decretou que jamais executariam as funções de marcação. Será?
E) Em compensação, Parreira ainda precisa provar que tem um bom meio-campo. Ele se resignou com a situação, em vez de procurar alternativas. Esta era a sua função como técnico.
F) Resultado: está dependendo demais de Raí. Se der ele der certo, muito bem, parabéns. Se não der, qual as alternativas, a duas semanas da estréia? Será Mazinho? Será Paulo Sérgio?
G) O time está precupado demais com a marcação na primeira fase, quando é necessário se classificar bem e uma vitória vale três pontos. A sorte é que Rússia e Camarões estão com muitos problemas.
H) Meu palpite neste momento (sujeito a erros e correções): poderemos ir bem até as quartas-de-final.

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