São Paulo, domingo, 5 de junho de 1994
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Guevara com o pé na estrada

DA REDAÇÃO

Um instantâneo da juventude de Che Guevara (1928-1967), revelando o caráter lírico de sua revolta social, pode ser visto nos apontamentos de viagem que ele redigiu no começo da década de 50 e que serão publicados pela editora Scritta no mês de julho próximo.
Se de alguma forma a imagem de Che Guevara sobreviveu ao fim das utopias socialistas, talvez seja porque seu espírito inquieto resistisse ao imobilismo das ideologias –da mesma forma como ele resistiu a participar por muito tempo do governo de Fidel Castro, depois da vitória da revolução cubana.
"Primeiras Viagens" reconstitui o trajeto que o jovem Ernesto Guevara e seu colega do curso de medicina, Alberto Granado, empreenderam desde a Argentina, sua terra natal, até a Venezuela, onde se separaram depois de passarem por várias cidades do Chile, do Perú e da Colômbia.
A bordo de uma velha motocicleta –apelidada ironicamente por eles de "Poderosa"– os dois chegaram a trabalhar num leprosário peruano às margens do rio Amazonas; mas o estímulo maior da viagem era mesmo a aventura.
Passando a noite ao relento, atirando num cão por engano, ou testemunhando as belezas e as injustiças históricas da América Latina, o rapaz que partiu da cidade de Córdoba em dezembro de 51, retornando nove meses depois, tinha a inquietude do "Che" que conquistaria Havana com Fidel em 59.
Cuba não é mais a ilha dos sonhos da esquerda e, na última semana, acossada pelo embargo econômico liderado pelos EUA, foi surpreendida por um aumento generalizado de preços, depois de 25 anos de relativa estabilidade econômica.
O guerrilheiro Che Guevara, porém, ainda mantém a aura romântica do herói –uma aura que já aparecia em seus relatos de juventude, que o Mais! publica abaixo. (Manuel da Costa Pinto)

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