São Paulo, domingo, 5 de junho de 1994 |
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Brasil entra em nova astronomia
DA REPORTAGEM LOCAL O Brasil entra em uma nova era astronômica com telescópios capazes de detectar partículas que chegam à Terra com raios cósmicos.Um dos experimentos pioneiros, chamado Microsul, deve estar funcionando em um ano no IAG (Instituto Astronômico e Geofísico) da USP (Universidade de São Paulo). "O IAG fica num local elevado, livre da interferência de montanhas e edifícios", diz à Folha Elly Silva, 66, do CBPF (Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas), que teve a iniciativa do experimento. Além do CBPF, no Rio, e do IAG, em São Paulo, a equipe responsável tem pesquisadores do Instituto de Física da USP e da Universidade Federal Fluminense. O Microsul vai detectar partículas elementares conhecidas como múons, que vêm do espaço em raios cósmicos (emissões geradas em estrelas, por exemplo). O experimento poderá "ver" múons que atingem a Terra horizontalmente (veja ilustração). Nessa direção, eles atravessam cerca de 40 vezes mais matéria que na vertical. A atmosfera funciona como filtro que só deixa passar um tipo de múon (com alta energia). No final da década passada, essa idéia começou a ser desenvolvida no Laboratório Nacional de Frascati (Itália), de onde Silva a trouxe para o Brasil. O experimento Microsul, que começou a ser instalado há cerca de dois anos, é composto por duas faces quadradas com um metro de lado, colocadas em pé paralelamente, a cerca de um metro de distância uma da outra. Cada face contém três planos justapostos, cada plano com 96 estruturas similares a tubos. Ao atravessar um "tubo", o múon provoca uma reação em seu interior que pode ser registrada em uma tira de metal paralela ao tubo e em uma outra tira vertical. Os registros fornecem as coordenadas em que o múon cruzou os seis planos. A partir deles, computadores podem calcular com precisão de até um grau o ponto do céu que deu origem ao múon. "Informações astronômicas podem permitir relacionar os múons a fontes de raios cósmicos", disse. O projeto recebeu US$ 70 mil da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), US$ 30 mil da Finep (Financiadora de Estudos e Projetos) e apoio do CNPq (Conselho Nacional de Pesquisas). Também contou com doação de US$ 100 mil em equipamentos do Instituto Nacional de Física Nuclear em Pádua (Itália). O instituto italiano também doou mais de US$ 1 milhão em equipamentos para detectores maiores. Um deles será montado no Instituto Militar de Engenharia, no Rio, ao lado do morro da Babilônia. O morro será utilizado como filtro adicional, que só múons com dez vezes mais energia que no Microsul conseguem atravessar. Texto Anterior: SÓLIDO Próximo Texto: Observação da luz não é mais suficiente Índice |
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