São Paulo, domingo, 5 de junho de 1994
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Confecção de mapas era segredo de Estado

JAIME RODRIGUES; CLÁUDIA PAS
DO BANCO DE DADOS

No Velho Mundo, até a assinatura do Tratado de Tordesilhas, a cartografia –ciência que elabora os mapas– era baseada principalmente nas teorias do geógrafo e astrônomo grego Cláudio Ptolomeu.
A "Geografia" de Ptolomeu, feita no século 2 d.C. e composta de 27 mapas dos países mediterrâneos, foi a referência usada por Cristóvão Colombo no descobrimento da América, em 1492.
No século 13, italianos e catalães eram os maiores cartógrafos da Europa.
Nesse momento, os europeus conheciam apenas um terço da superfície terrestre - o que englobava a Europa, o Oriente Médio e o norte da África.
A partir da época da expansão marítima pelos europeus, a cartografia recebeu grande impulso e prestígio, passando a significar um diferencial entre o poder e o desenvolvimento dos países.
No final do século 15, os portugueses começaram a se destacar na elaboração de mapas, impulsionados pelo pioneirismo de seus descobrimentos.
Ainda que muito precários, os mapas orientaram navegadores portugueses e espanhóis em suas viagens ao redor do mundo.
Os cartógrafos portugueses eram considerados portadores de segredos de Estado.
Esses homens eram regularmente contratados, de forma clandestina, por nações concorrentes de Portugal que buscavam o conhecimento cartográfico.
Na Espanha trabalharam cerca de 40 cartógrafos portugueses. O mais conhecido foi Diogo Ribeiro, que elaborou entre 1525 e 1529 os primeiros planisférios (representações do mundo de forma plana) completos.
Os holandeses também se notabilizaram na cartografia. No século 16, Mercator (nome latino de Gerhard Kramer) e Abraham Ornelius embasaram a confecção do primeiro atlas moderno do mundo.
O conhecimento da configuração dos continentes e mares ampliou as fronteiras mundiais.
Esse longo processo de conhecimento do contorno da Terra só foi concluído em 1773, com a publicação dos mapas criados pelo navegador inglês James Cook.
Em suas viagens Cook cruzou o Oceano Pacífico atrás de novas rotas e redimensionou as distâncias entre a Austrália e as Américas, comprovando a inexistência de um grande continente no sul do oceano Índico, como era imaginado havia 14 séculos.
Se na época dos descobrimentos os portugueses procuravam resguardar suas informações por motivos políticos, nos séculos seguintes a necessidade de bons mapas de todas as partes do planeta tornaram pelo menos parte da cartografia um ramo instituicionalizado da estratégia militar.
As guerras exigiam isso. Traçar estratégias militares ou medir as dificuldades de novas conquistas eram tarefas para os quais os mapas se mostraram bastante úteis.
O uso do conhecimento geográfico e cartográfico pelos militares levou o geógrafo francês Yves Lacoste a afirmar, já no século 20, que "a geografia serve, antes de mais nada, para fazer a guerra". (CP e JR)

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