São Paulo, domingo, 5 de junho de 1994
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Execução com gás causa dor e pode demorar

DA "PHILADELPHIA INQUIRER"

A câmara de gás é o método de execução adotado em cinco Estados americanos. Nevada foi o primeiro a usá-la, em 1923, com o intuito original de surpreender o preso, matando-o em sua cela sem aviso prévio.
O gás cianídrico (HCN), usado até então para exterminar um parasita dos laranjais, foi escolhido como agente asfixiante. Antes da primeira execução foi feito um teste com dois gatos, que foram mortos com HCN.
Em 8 de fevereiro de 1924 o chinês Gee Jon tornou-se a primeira pessoa a ser legalmente executada com gás cianureto (cianeto) nos Estados Unidos.
Ele morreu em cerca de seis minutos, mas um dos médicos recusou-se a acreditar que estivesse morto, e recomendou que todos os corpos futuros fossem removidos da câmara de gás e enforcados ou fuzilados, para que se tivesse certeza de que a justiça fora feita.
O acontecimento foi saudado por um jornal de Nevada, por "afastar-nos mais um passo do estado selvagem em que se busca obter vingança e infligir dor retaliatória".
Mas nas execuções seguintes frequentemente levou-se mais de 10 minutos para declarar o condenado morto.
Antes de ir para a câmara de gás da Califórnia, em 1960, Caryl Chessman disse que iria acenar com a cabeça se sentisse dor. Segundo testemunhas, ele acenou por vários minutos.
Clinton Duffy, ex-carcereiro da prisão de San Quentin, assistiu à várias execuções na câmara de gás da Califórnia, e descreveu uma delas: "Dois policiais o acompanham por 10 a 12 passos e depois rapidamente o prendem à cadeira metálica. Eles aplicam o estotoscópio e selam a porta".
"O carcereiro dá o sinal e o carrasco aciona a alavanca que permite que os óvulos de cianureto se misturem com a água destilada e o ácido sulfúrico. O preso fica inconsciente em segundos.
É uma visão medonha. As testemunhas desmaiam. No fim, a impressão que se tem é que ele adormeceu. Mas o corpo não fica desfigurado nem mutilado de qualquer maneira".
No dia 2 de setembro de 1983 Jimmy Lee Gray morreu batendo sua cabeça contra uma coluna metálica no interior da câmara de gás do Mississippi.
Algumas testemunhas ficaram enojadas ao assistir a seus esforços desesperados por respirar e disseram que ele ainda estava arfando, tentando respirar, depois de 12 minutos, quando lhes mandaram sair.
A execução de Robert Alton Harris, em 21 de abril de 1992, na Califórnia, foi descrita pela testemunha Michael Kroll no jornal "The Nation".
"Sua cabeça começou a girar e seus olhos se fecharam, depois se abriram de novo. Sua cabeça caiu para a frente, depois se reergueu bruscamente e voltou a girar.
Era grotesco, medonho... Ele se contorceu por vários minutos, a cabeça caindo sobre o peito, sua boca aberta babando saliva. Ele reerguia a cabeça a todo instante. Sete minutos, que pareceram durar uma vida inteira.
Outros nove minutos se passaram com sua cabeça caída sobre o peito. Seu coração não parava de bater".
O gás cianureto utilizado na Califórnia é quimicamente o mesmo que o gás Zyklon B, utilizado pelos exterminadores nazistas em Auschwitz.
Foram os aspectos dolorosos da morte pelo gás cianureto que levaram a Convenção de Genebra a proibir sua utilização na guerra.
O fuzilamento ainda é uma opção apenas nos Estados de Utah e Idaho, e pode resultar em dor prolongada se os atiradores não acertarem o alvo, marcado sobre o coração do preso.

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