São Paulo, domingo, 5 de junho de 1994
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Razões de voto

A pesquisa do Datafolha publicada hoje traz informações particularmente interessantes ao buscar desvendar não só a preferência do eleitor para o pleito deste ano, mas também suas motivações, as razões que o levam a considerar certo candidato melhor ou pior que outro.
Chama a atenção, por exemplo, que a pesquisa vem confirmar uma impressão que já se intuía acerca de Fernando Henrique Cardoso: sua candidatura é refém do desempenho do programa de estabilização.
De fato, entre os que se declararam eleitores do tucano, 45% indicaram o plano como sua motivação. É o candidato com a maior parcela dos seus votos justificada por uma única razão –dado que acaba, de um lado, tornando-o vulnerável a uma grande fuga de votos em caso de um eventual fracasso.
De outro lado, porém, é de se notar que a principal explicação para a rejeição ao peessedebista é também o plano econômico: 27% dos que não querem FHC na Presidência assim pensam porque, na sua avaliação, o Plano Real não está funcionando. Isso dá ao tucano margem para crescer entre os que hoje o rejeitam caso o programa de estabilização revele-se um sucesso.
Já Lula enfrenta situação diversa, e num certo sentido muito mais estável. Seus eleitores votam nele por uma série de razões, a maioria das quais ligada à sua identificação com os mais pobres e trabalhadores (33%) ou com a expectativa de que vai ajudá-los (12%). Como essa imagem dificilmente vai mudar até as eleições, é de se supor que eleitores que privilegiem tais características continuarão fiéis ao petista.
De outro lado, contudo, também sua rejeição parece mais sólida. Dentre os que não querem Lula no Planalto, por exemplo, 15% o justificam pela suposta falta de competência para governar; 13% porque o consideram um agitador e temem muitas greves; 12% pela antipatia pessoal; e outros 11% pela falta de cultura e estudo. Como o petista não poderá mudar seu nível educacional até as eleições, nem mostrar-se um administrador competente, deverá ter mais dificuldades para reverter essa rejeição.
Diferentemente dos dois líderes da disputa sucessória, outros três candidatos têm na experiência administrativa prévia seu maior trunfo. Dos eleitores de Orestes Quércia, 36% o escolheram em função do seu desempenho no Executivo; dos de Leonel Brizola, 29%; e daqueles de Esperidião Amim, 39%.
Suas rejeições são porém de ordens bastante distintas. O peemedebista tem como maior problema a imagem de corrupto e desonesto; o candidato do PDT, a avaliação de que fez um mau governo no Rio; e o postulante do PPR, o fato de ser desconhecido. Cada uma destas dá a cada candidato uma preocupação diferente na campanha eleitoral.
Aliás, como se esperava, a questão da ética ganhou posição de relevo nesta eleição. Se a rejeição a Quércia é o caso mais flagrante, Lula, FHC e Amim tem parcela expressiva dos seus votos devida à imagem de honestidade.
É claro que essa pesquisa, como qualquer outra, representa um retrato momentâneo e, portanto, fluido e mutável do cenário eleitoral. Ainda assim, esse tipo de sondagem é muito útil na medida em que identifica os principais trunfos e vulnerabilidades da imagem dos candidatos. E é isso em larga medida o que determina o potencial de cada um para crescer ou cair na preferência do eleitorado.

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